Título: Seguradoras cortam plano de pessoa física e focam as pequenas empresas
Autor: Junior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2007, Finanças, p. C2

Planos individuais, nem pensar. O foco das seguradoras em 2007 vai continuar nos planos coletivos, voltados para empresas. "A prioridade vai ser redesenhar produtos e tentar atingir novos nichos", avalia o especialista Gustavo Mello, sócio da Correcta Seguros.

Praticamente todas as grandes seguradoras pararam de vender apólices para pessoas físicas nos últimos anos. Apólice individual só nas operadoras, como Medial e Amil, que têm rede hospitalar própria e por isso conseguem obter retorno expressivo.

Um dos nichos para as seguradoras são as pequenas e médias empresas. Outro nicho são seguros mais simples e baratos, voltados para níveis hierárquicos mais baixos. A SulAmérica lançou recentemente um produto assim. O Bradesco prepara produtos voltados só para pequenas empresas.

"As grandes empresas todas já têm planos", destaca Heráclito de Brito Gomes Junior, executivo responsável pela Bradesco Saúde. Para ele, a aposta são as pequenas empresas, que devem ser as vedetes da economia num cenário de retomada do crescimento. Outra estratégia do Bradesco é oferecer o seguro dental para estas companhias. Esta apólice, aliás, foi uma das que mais cresceu em 2006 na seguradora. A carteira aumentou em 80 mil vidas, que elevou o total de segurados na área odontológica para 550 mil vidas.

Para equacionar a carteira de saúde, o Bradesco não fugiu à regra do mercado. Parou de vender apólices individuais e cortou custos. Segundo Brito, as despesas administrativas, que chegaram a 12% dos prêmios, caíram para menos de 7% em 2006. Com o fim da venda de planos para pessoas físicas, os seguros grupais respondem hoje por 89% da carteira. A volta da venda de planos individuais não está nos planos. "O foco continua sendo os coletivos", diz.

A Marítima Seguros também não pensa em voltar a vender apólices para pessoas físicas. A seguradora conseguiu equacionar a área e em 2006, até novembro, o faturamento total cresceu 19%. Para este ano, a previsão é de expansão de mais 19%, diz Murilo Rego Lins, diretor do ramo saúde da Marítima.

Segundo ele, o principal problema dos planos para pessoas físicas eram os reajustes. "Os critérios do governo eram muito mais políticos do que técnicos", afirma. Com isso, a alta de preços não acompanhava a chamada inflação médica - que mede a variação de preços dos custos médicos e hospitalares, sempre mais alta que a inflação de preços da economia. O resultado, para a seguradora, era prejuízo. Lins nega que a Marítima vá vender sua carteira de pessoa física, como fez a Porto Seguro em novembro. "Vamos continuar cuidando da carteira", diz.

Na AGF Seguros, que vem trabalhando há anos com empresas menores, a principal estratégia é um programa preventivo nas empresas para reduzir os sinistros, conta seu diretor, Peter Rosemberg. Em 2006, até outubro, sua sinistralidade estava em 68,9%, bem abaixo da média de mercado.

Segundo o estudo de Castiglione, a taxa no ano passado estava em 84%, número menor que em 2005 (90%), mas ainda considerado alto pelos especialistas. Há dez anos, estava em 76%.

A estratégia da AGF é identificar nas companhias grupos de pessoas que podem ter problemas no futuro, como os obesos, e fazer programas preventivos. A estratégia tem dado certo. Em 2006, os prêmios subiram 18,6%. Para este ano, a previsão de Rosemberg é de expansão de 20%.

O trabalho para equacionar a carteira de saúde pode ser observado na evolução do índice combinado, principal indicador do setor de seguros, que avalia a rentabilidade operacional da seguradora. Quanto menor, melhor. De 2001 a 2005, o índice sempre superou os 100%, mostrando desequilíbrios operacionais, ou seja, perdas. Em 2003, o combinado chegou a 103,8%. Em 2006, caiu para 98%.

Para Castiglione, os problemas do segmento ainda não foram resolvidos. "O mercado se recuperou em 2006, mas ainda não absorveu todas as perdas passadas. Isso só vai acontecer se o segmento mantiver nos próximos anos o mesmo desempenho de 2006", afirma.