Título: Conciliador da transição
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 07/11/2010, Política, p. 8

Perfil - José Eduardo Dutra Geólogo, o presidente do PT fez carreira sindical na CUT e chegou a comandar a Petrobras. Tem perfil de político cordato, que conversa com os aliados. Pode assumir vaga de Sergipe no Senado Alana Rizzo

Os 26 dias da greve na mina de potássio, ainda na década de 1980, obrigaram o então presidente do Sindicato dos Mineiros de Sergipe a se mudar para o local, a 47km de Aracaju. O geólogo José Eduardo Dutra tinha acabado de fundar e eleger-se presidente da entidade. A tensão forçava o atual coordenador da equipe de transição da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), a ¿negociar, negociar e negociar¿. Quase 30 anos depois, o ¿barril de pólvora¿ agora é outro: Dutra precisa conciliar os mais diversos ¿ e heterogêneos ¿ interesses dos partidos, especialmente PT e PMDB, que ajudaram a eleger a sucessora do presidente Lula, para que a Dilma possa formar seu futuro governo sem crises políticas.

A missão começou meses antes do último dia 31. Dutra desistiu de uma reeleição quase certa ao Senado para trabalhar na campanha presidencial. O pedido foi feito por Dilma. Ela queria dedicação total ao projeto político. Os dois ficaram mais próximos quando a petista estava no Ministério de Minas e Energia e Dutra na Presidência da Petrobras. O presidente do PT concordou, mesmo contrariando amigos e políticos locais que acreditavam numa vitória tranquila. Uma manobra, no entanto, pode levá-lo ao Senado. O senador reeleito Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), de quem é suplente, pode assumir um ministério no futuro governo e liberar a vaga no Legislativo.

Ceder para vencer Não foi a primeira vez que Dutra deixou de concorrer a um cargo. O senador abandonou a corrida para o Palácio dos Despachos em 2006, em prol da candidatura do amigo Marcelo Déda (PT-SE), recém-reeleito ao governo de Sergipe. Os dois eram bem cotados. Dutra já tinha tentado em 1990 e em 2002. O presidente Lula cobrava uma candidatura própria do PT. Num domingo à noite, o então senador abriu mão da disputa. Foi nomeado presidente da BR Distribuidora, voltando à Petrobras, da qual foi presidente entre de 2003 a 2005. No estado, atuou mais uma vez na campanha do amigo Déda. O prefeito de Aracaju foi eleito com 52,48% contra João Alves Filho.

Militante estudantil, Dutra formou-se em geologia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, mas fez carreira política e profissional no Nordeste. Foi trabalhar em Aracaju e acabou ¿capturado¿ pelo sindicalismo quando era responsável pela mina de potássio de Taquari-Vassouras da Petrobras Mineradora ¿ Petromisa. Dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), chegou também ao posto mais alto na estrutura partidária. Desde o ano passado, Dutra ocupa a Presidência do PT, com apoio do presidente Lula e dos petistas de São Paulo. Disputou o cargo com deputado federal José Eduardo Cardozo (PT-SP), outro ¿homem de Dilma¿ na campanha, a quem derrotou em eleição direta. Dutra gosta de rock, de um bom papo com os amigos num boteco e sai do sério quando o Botafogo dá vexame.