Título: Companhias de TI preparam-se para instalar chip em veículos
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2006, Empresas, p. B1

Na tarde de ontem, um grupo de executivos e especialistas em tecnologia trancaram-se mais uma vez em uma das salas do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em Brasília, para levar adiante uma discussão que deve se intensificar nos próximos dias. Até o fim de novembro, o governo tem que definir o padrão tecnológico que irá orientar a instalação de "etiquetas inteligentes" em carros de todo o país. No momento, diz o presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), Roberto Scaringella, falta apenas o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) regulamentar a obrigatoriedade do sistema.

Por trás do projeto está a possibilidade de aprimorar a gestão do trânsito, monitorar carros que tenham sido roubados e ampliar o controle fiscal de veículos em situação irregular, com atraso de multas, IPVA e seguro obrigatório, por exemplo. Os benefícios são claros, defende Scaringella. Mas as tecnologias para chegar até lá, nem tanto, um impasse que tem mexido com os principais fornecedores do setor.

De um lado estão as chamadas "etiquetas passivas", um microchip simples que não carrega bateria e é ativado apenas quando cruza por antenas, em um raio de aproximadamente oito metros. "Cada etiqueta dessa custa cerca de R$ 1. Esse baixo custo possibilita a sua implementação em larga escala", comenta Fernando Claro, vice-presidente de operações da Seal Sistemas, especializada em tecnologias de radiofrequência.

Do outro lado estão as "etiquetas ativas", que carregam bateria e têm capacidade própria de processamento. Trata-se do recurso usado no projeto "Sem Parar", dos pedágios rodoviários. "Nosso produto oferece mais segurança, e foi criado para esse tipo de aplicação", defende Eduardo Coutinho, gerente geral da Q-Free no Brasil, empresa de origem norueguesa que já vendeu 750 mil etiquetas inteligentes para o pedágio eletrônico. A dificuldade da Q-Free, no entanto, está no preço de seu produto: cerca de R$ 25.

Com fábrica local desde 2003 e US$ 4 milhões investidos na unidade brasileira, a Q-Free pode investir "bem mais", caso a sua tecnologia seja a escolhida, diz o gerente geral da subsidiária. De outra forma, nada será feito.

Mas não é isso o que espera a brasileira Compsis Computadores e Sistemas, que trabalha com um software para etiquetas passivas, usando antenas e chips importados da Ásia. Posição similar é adotada pela Enternet Informática, integradora de sistemas que investiu US$ 500 mil em uma unidade de sistemas de radiofreqüência só para atender os projetos viários. "Queremos vender 500 mil etiquetas até o fim de 2007", afirma o diretor da Enternet, Sinésio Franco Fernandes.

Enquanto o governo federal não define um padrão, prefeituras se movimentam para tentar se livrar dos custos de adoção da tecnologia, uma vez que a idéia do governo é não repassar esse ônus para o cidadão, embora isso já venha ocorrendo. Em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab procura trabalhar em um projeto de parceria público-privada para disponibilizar as etiquetas ao cidadão. "Estamos esperando a definição. Só então poderemos aumentar a dimensão do que vem sendo testado", diz o prefeito, referindo ao projeto em execução no bairro dos Jardins, com cerca de 500 veículos.

Com a regulamentação da lei, a prefeitura irá não só oferecer mais segurança para o motorista e ter melhor gerenciamento do tráfego, mas também monitorar de perto a frota de 1,7 milhão de veículos que circulam pela capital, dos quais 30% possuem algum tipo de pagamento em atraso. Em um cálculo rápido, diz Roberto Scaringella, presidente da CET, a prefeitura está deixando de receber cerca de R$ 1,7 bilhão. "É inegável que, se conseguirmos baixar esse índice, já conseguimos pagar todo o projeto", diz.

A avaliação de Scaringella, de certa forma, corrobora com o que defende o gerente geral da Q-Free no Brasil, Eduardo Coutinho: "Não podemos negar que o valor de um chip de R$ 25,00 é bem inferior ao de um IPVA", afirma.