Título: País tem de diminuir rigidez, diz Rato
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2007, Finanças, p. C8

O governo Lula se livrou dos programas econômicos do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas não das sugestões de seu diretor-gerente Rodrigo Rato. Ele defendeu ontem que o governo aproveite o novo calendário político, referindo-se ao segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para quebrar "rigidezes na economia" a fim de aumentar o potencial de crescimento do país.

Para Rato, isso significa reformas para aumentar a competição no sistema financeiro, reduzir a rigidez do orçamento, permitir mais abertura econômica e dotar o setor produtivo de maior capacidade para aproveitar as oportunidades.

Depois de uma reunião com grandes bancos privados internacionais e presidentes de bancos centrais, em Basiléia (Suíça), Rato insistiu que não é tempo para complacência e que os governos deveriam aproveitar o atual cenário benigno internacional para fazer reformas.

Na verdade, o Brasil nem esteve na agenda da elite das finanças internacionais, ontem, na sede do Banco de Compensações Internacionais (BIS), espécie de banco dos bancos centrais. Isso porque a economia do país é vista como positiva. Na corrida para fugir de jornalistas, no frio cortante de começo de noite, os presidentes do Deutsche Bank, do UBS e do Credit Suisse disseram que não tinham "nem idéia" sobre a situação específica atualmente do Brasil.

O diretor-gerente do FMI falou sobre o Brasil quando foi indagado por dois jornalistas brasileiros. Foi enfático nos elogios e nos palpites. "A economia brasileira melhorou do ponto de vista macroeconômico de maneira muito importante, ganhou ampla credibilidade nos mercados financeiros internacionais e amplo espaço de manobra para responder a choques externos", disse ele, elogiando especificamente as políticas da dívida e de juros.

Agora, ele acha que "no novo calendário político (o país) tem que construir sobre essa estabilidade macroeconômica para dar mais flexibilidade à economia e também ao setor publico". Sugere como especialmente importante "para a agenda do Brasil nos próximos anos" as reformas no setor financeiro, no setor de serviços e bens de maior competitividade e uma reforma fiscal para dar mais flexibilidade ao orçamento. "O problema brasileiro não é estabilidade macroeconômica, mas certas rigidezes (na economia)", disse. "Construir uma economia que possa crescer por longo período de tempo requer flexibilidades e abertura, sem dúvida.'' Nas discussões de ontem, participaram bancos privados como ABN, Credit Suisse, UBS, Nomura, Mitsubishi, Deutsche e gerentes de fundos internacionais. O FMI considera que os bancos centrais estão atuando de maneira adequada em relação aos riscos com a manutenção das políticas monetárias, mas insistiu na necessidade de "manter vigilância" sobre a inflação.

As previsões para 2007 são de crescimento forte na Europa, continuação do crescimento no Japão e expansão "muito, muito grande" em alguns países emergentes, particularmente na Ásia - ou seja, China e India, com cerca de 9%. A previsão para o Brasil, dada em 2006, foi de 3,4%. Quanto aos EUA, ainda a locomotiva global, a avaliação do FMI é de que haverá uma "desaceleração suave", o que reduz os riscos para emergentes.