Título: Obama avança em Estado vital para reeleição
Autor: McGregor , Richard
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2012, Internacional, p. A11

A cena incorporava todas as contradições recorrente do discurso padrão de Barack Obama - uma praça de cidade pequena, um pódio modesto e uma multidão formada pela nata da sociedade local, cercada por severos agentes do Serviço Secreto e atiradores em vestimentas negras nos telhados.

Recorrente também foi o local escolhido por Obama - a cidade de Mansfield, em Ohio, Estado que os candidatos têm de vencer para conquistar a Casa Branca.

A visita de Obama a Ohio na quarta-feira foi sua nona neste ano, tornando-o o Estado mais visitado pelo presidente do que qualquer outro em 2012, exceto por Virgínia e Maryland, vizinhos a Washington, e Nova York.

Os EUA viveram grandes mudanças étnicas e demográficas nos últimos cinquenta anos, com um surto de imigrantes hispânicos e uma mudança da população para o sul e oeste do país.

Mas Ohio manteve seu status de "swing state" (Estado que, ao contrário da maioria, a cada eleição pende ou para o Partido Democrata ou para o Republicano), em termos de voto presidencial, durante todo esse período. Como um microcosmo das megatendências na economia política americana, quando o país troca de marcha, Ohio continua acompanhando a mudança.

"Se eu estivesse em Marte no dia da eleição e tivesse direito a fazer uma só pergunta, eu indagaria sobre quem venceu em Ohio e então lhe diria quem é o presidente dos EUA", disse Jerry Austin, consultor do Partido Democrata no Estado.

A história dá sustentação a essa afirmação. Nenhum republicano ganhou a Casa Branca sem Ohio. O último democrata a vencer sem o Estado foi John Kennedy, em 1960.

A campanha de Obama traçou uma série de caminhos para a vitória passando por diferentes Estados e regiões numa eleição que o presidente poderá facilmente perder devido ao persistente pessimismo com a economia. Uma vitória na Flórida quase certamente manteria Obama na Casa Branca. A Virginia, ao sul de Washington, no passado um reduto republicano, é crucial, assim como o Colorado, no montanhoso oeste.

Mas Romney sabe que terá poucas esperanças, a menos que possa canalizar o sentimento anti-Obama que varreu Ohio nas eleições na metade do mandato presidencial, em 2010, quando os republicanos ganharam uma série de cadeiras no Congresso e o posto de governador.

A economia diversificada do Estado recuperou-se um pouco, a partir de então, e o desemprego em Ohio está um ponto percentual abaixo do indicador nacional, de 8,3%, anunciado na semana passada com o relatório sobre o emprego em julho.

Grande Estado na região centro-oriental, Ohio abriga a segunda maior indústria automobilística no país, regiões agrícolas prósperas, grandes cidades como Cleveland, às margens dos oceânicos Grandes Lagos, e o início de um boom de gás de xisto em áreas próximas à Pensilvânia.

"Trabalhadores de colarinho azul, de colarinho branco, agricultores, centros de cidade deteriorados, subúrbios, população negra, mais hispânicos, o que você quiser, nós temos", disse Austin.

Assim como as outras regiões industriais, Ohio tem lutado para superar a sua imagem de "cinturão de ferrugem", um rótulo que está ficando desgastado, mais de três décadas depois que siderúrgicas e outras indústrias começaram a fechar as portas, em meio a ondas de concorrência da Ásia.

Akron, segunda parada de Obama na viagem da semana passada, simboliza a recuperação errática de Ohio. Centro debate mundial da fabricação de pneus até a ascensão do Japão na década de 1970, Akron perdeu dezenas de milhares de empregos em fábricas, mas também reestabeleceu-se como um centro educacional e de pesquisas.

Nos últimos dois anos, a indústria automobilística de Ohio recuperou-se com o socorro de Obama à indústria automobilística. Agricultura, educação e serviços de saúde ampliaram, todos, seus níveis de emprego em 2012.

O maior problema de Obama são os homens da classe operária branca, que nunca simpatizaram com o presidente e aceitam ainda menos seu engajamento em causas socialmente liberais, como casamento de gays, especialmente quando seus empregos e suas rendas estão sendo espremidos.

Mas alguns sindicalistas penderam de volta para o campo democrata, irritados com o empenho do governador do Estado republicano em restringir seus direitos de negociação salarial coletiva.

Ambos os campos e as organizações financiadoras das campanhas a eles alinhadas, especialmente no lado republicano, estão despejando dinheiro e recursos no Estado, meses antes das eleições de novembro, com uma intensidade que supera as eleições anteriores.

"Se você ligar a TV, poderia pensar que a eleição será na próxima terça-feira", disse Mark Weaver, consultor republicano.

John Green, professor de ciência política na Universidade de Akron, avalia que Obama está ligeiramente à frente, uma sensação reforçada por uma pesquisa na semana passada que lhe atribuiu uma vantagem de seis pontos em Ohio.

"Os democratas estavam ficando frustrados por que Barack Obama tinha gasto muito tempo e dinheiro no Estado e as pesquisas não mostravam um avanço", disse ele. "Bem, elas talvez tenham finalmente começado a melhorar."