Título: De volta aos holofotes
Autor: Franco, Wellington Moreira ; Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 07/11/2010, Política, p. 9

Perfil - Moreira Franco

Após passar um período longe do palco principal da política brasileira, ex-governador do Rio é cotado para assumir um ministério em 2011. "Presente" viria das mãos do amigo Michel Temer

Bem penteado, garboso, fino. A elegância do ex-governador do Rio de Janeiro Wellington Moreira Franco, 66 anos, desfilada nas altas rodas da sociedade fluminense, rendeu ao mais intelectual dos peemedebistas o apelido político de Gato Angorá. O autor da preciosidade foi o também ex-governador Leonel Brizola, no calor de um dos muitos embates que teve com o adversário histórico.

Sem votos no estado que já comandou, em 2004 Moreira Franco chegou a desistir de disputar o segundo turno para a prefeitura de Niterói (RJ), cidade onde o piauiense nascido em Teresina construiu seu berço político. Mas a amizade de mais de duas décadas com o vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB), colocou o político fluminense no centro da composição do governo Dilma Rousseff. Moreira Franco é para Temer o que o presidente do PT, José Eduardo Dutra, é para Dilma: o anjo da guarda escalado para lidar com aliados bonzinhos e malvados.

A amizade de Moreira Franco com o vice eleito pode ser premiada com um ministério. Ele deixou a Vice-Presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal ¿ onde os próprios correligionários reclamavam que não recebiam atenção ¿ com a missão de auxiliar a coordenação de campanha de Dilma a dialogar com prefeitos e parlamentares de partidos de toda a sorte, ele agora entra na chamada ¿cota de Temer¿ para ganhar uma pasta na Esplanada. Internamente, o partido discute se a parte que cabe ao vice aumentará ou permanecerá com apenas uma rubrica. ¿Ele é 100% Michel. Mas se quiser fazer o Moreira (ministro), é na cota dele, e não na do PMDB¿, diz um peemedebista que preferiu não se identificar. Atualmente, o Ministério da Agricultura corresponde à cota do vice. Agradaria a Moreira Franco e ao PMDB do Rio de Janeiro comandar o Ministério das Cidades ou o superministério que poderá ser criado com a fusão dos Transportes à pasta que atualmente pertence ao PP de Márcio Fortes.

O protagonismo que o PMDB vive no momento foi um remédio para sarar feridas antigas. Moreira Franco e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), têm um passado difícil. Sarney ficou magoado quando o político fluminense não apoiou a manutenção do mandato presidencial de seis anos. À época, Sarney comandava o país. A represália teria vindo com o apoio ao ex-senador baiano Antonio Carlos Magalhães para levar um polo petroquímico à Bahia, preterindo o Rio. Mais de 20 anos depois, a vitória de Dilma foi o suficiente para reunir os dois.

Limitação Ex-governador e hoje cotado para ser ministro de Dilma, Moreira Franco convive de perto com a oposição. Sua enteada é casada com o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). ¿Ele consegue ser sogro do Rodrigo Maia e, apesar de estar sempre trabalhando para contrariar o próprio genro, eles sempre caminham juntos de manhã¿, conta o deputado Alexandre Santos (PMDB-RJ).

Torcedor do Botafogo, Moreira Franco gosta mesmo é de caminhar. Antes de assumir cargo na Caixa Econômica Federal, o ex-governador era visto com frequência na orla de Niterói, passeando com o cachorro de estimação.

Olho clínico » Peemedebistas e aliados que convivem com Moreira Franco destacam sua capacidade de captar a essência dos personagens que farão a diferença em processos de articulação política. Ele tem, segundo correligionários, olho clínico para identificar os principais atores de um cenário político e saber como abordá-los. Sociólogo com doutorado na Sorbonne, o peemedebista é chamado de ¿conselheiro¿ pela cúpula do partido. A carreira política de Moreira Franco foi influenciada por seu ex-sogro Amaral Peixoto, dirigente do PDS durante o governo militar. Moreira Franco foi casado com Celina Vargas Amaral Peixoto, neta de Getúlio Vargas.