Título: Odebrecht vai investir US$ 10 bi em PPP
Autor: Balarin, Raquel e Totti, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2006, Empresas, p. B6

Nos Estados Unidos, a Odebrecht participa de uma licitação para a construção de um túnel em um projeto de Parceria Público-Privada (PPP) de US$ 1,5 bilhão. No Peru, as concessões e as PPPs das quais o grupo participa somam US$ 1 bilhão. Em Portugal, outros 500 milhões de euros. As áreas de concessões e PPP - reunidas na Odebrecht Investimentos em Infra-Estrutura (OII) - representam a nova estratégia de crescimento do grupo que controla a maior empresa de engenharia e serviços da América Latina.

A estimativa é de que a OII invista no Brasil e exterior US$ 1 bilhão anualmente nos próximos anos em projetos de infra-estrutura, de acordo com Marcelo Odebrecht, presidente da OII e da Construtora Norberto Odebrecht. Aos 37 anos, o representante da terceira geração dos Odebrecht é taxativo. Para ele, o mundo todo usufruiu ao máximo da infra-estrutura instalada e agora precisa fazer novos investimentos. "Qualquer que seja o presidente eleito, será preciso começar a construção de hidrelétricas no próximo ano. Caso contrário, poderemos ter problemas com oferta de energia", diz o filho de Emílio, com sotaque baiano, que denota a origem do grupo.

A Odebrecht desenvolveu, com Furnas, o projeto do maior complexo hidrelétrico previsto para os próximos anos, as duas usinas do rio Madeira, em Rondônia, com investimentos previstos de R$ 10 bilhões. Com a liberação da licença ambiental prévia, a expectativa de Marcelo é de que a licitação para a primeira usina seja lançada entre janeiro e fevereiro. O setor privado terá 51% do projeto e o poder público, 49%. "Já temos alguns investidores financeiros conosco e estamos sendo procurados por grupos chineses e russos."

Apesar da expectativa positiva sobre o Madeira, é no exterior que a Odebrecht vem avançando mais rapidamente - tanto em obras e engenharia, como em PPP. No Brasil, Marcelo diz que os investimentos caminham mais lentamente por três motivos principais. Primeiro, porque mesmo com a queda na taxa de juro, o custo ainda é muito alto. "No Equador e no Peru, tomamos recursos com juro fixo de 6% a 7% ao ano, com prazo de 19 anos. No Brasil, não há financiamento com esse prazo e nem com taxa prefixada. A TJLP é variável", diz Marcelo, que, há cerca de cinco anos, aos 32 anos, comandou a operação que deu ao consórcio liderado pela Odebrecht o controle sobre a Copene, hoje Braskem.

Outro motivo que não deixa as PPPs deslancharem no Brasil - e, consequentemente, os investimentos - é a atuação do Tribunal de Contas da União (TCU), na opinião de Marcelo. O órgão do Legislativo, criado para fiscalizar as contas, transformou-se, segundo ele, em um órgão executivo do Judiciário. "Há uma cultura do medo de tomar certas decisões no poder público. Nos EUA, fechamos um contrato de US$ 600 milhões com um condado na Flórida em negociação direta. Imagina se fizéssemos isso aqui", diz, ressaltando que o país parou de "pensar grande" e que isso também emperra os grandes investimentos.

A área de construções da Odebrecht, que inclui a OII, faturou US$ 2,7 bilhões no ano passado. Desse total, 74% vem do exterior (18 países). O maior contrato é com o corpo de engenheiros do Exército americano, para obras no norte da África e no Oriente Médio. São U$ 1,5 bilhão em cinco anos.

Em Miami, a empresa constroí os dois terminais do aeroporto e concluiu o Carnival Center for the Performing Arts, um complexo para espetáculos de US$ 400 milhões e um dos dez maiores do mundo. O empreendimento, que será inaugurado amanhã, marca os 15 anos de operação nos EUA.

As obras no exterior permitiram que a Odebrecht se transformasse na maior exportadora brasileira de serviços. Só seus 1,7 mil fornecedores e parceiros exportaram bens e serviços de US$ 605 milhões em 2005. "Somos o maior exportador de sapatos do país, por causa das botinas de nossos funcionários no exterior", diz Marcelo.