Título: Ociosidade cresce na indústria e sugere volta lenta do investimento
Autor: Giffoni , Carlos
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2012, Brasil, p. A2

A indústria chegou na metade de 2012 com uma expressiva capacidade ociosa, indicando que o setor pode elevar a oferta sem novos investimentos. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que o nível de utilização da capacidade recuou para 80,8% em junho, quase dois pontos abaixo de igual mês de 2011, quando a indústria operou com 82,4% de sua capacidade. Em meados de 2009, auge da desaceleração provocada pela crise internacional, esse índice foi de 79,5%.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz que esse dado indica uma volta muito suave dos investimentos. Ele explica que esse fator se soma às incertezas quanto à recuperação econômica de Europa e Estados Unidos no fim do ano, devido ao risco de um "abismo fiscal", como foi chamado por Ben Bernanke, presidente do Fed, o banco central americano. "Quando há esse grau de incerteza, é natural vermos o investimento demorar a voltar", disse.

Para Julio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o aumento da capacidade ociosa da indústria desestimula novos investimentos. Ele explica que um nível de utilização da capacidade baixo abre margem para que a produção cresça sem novos projetos ou compra de máquinas. "O investimento é balizado pela ociosidade da indústria, da empresa ou da economia, pela expectativa de demanda e pelo custo desse investimento. Quanto maior for o espaço para que a empresa aumente sua produção quando necessário, mais ela vai fazê-lo sem novos investimentos, já que existe capacidade instalada que comporte esse crescimento. Essa é a nossa situação atual", explica.

A indústria elevou em 3,1% o faturamento no primeiro semestre, apesar da redução da ocupação, usando mais insumos importados. A avaliação é do gerente-executivo de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. "O movimento reflete, cada vez mais, o uso de componentes importados, o que acaba impactando o faturamento." Castelo Branco diz, porém, que a alta no faturamento não é suficiente para reverter o que a CNI tem chamado de "semestre perdido". Para ele, o maior uso de insumos importados leva a "produzir e empregar menos".

O aumento do faturamento também não significa, necessariamente, aumento no lucro, explicou o economista. Isso porque a massa salarial e o rendimento médio real (ambos com alta de 6,8% entre os primeiros semestres de 2011 e 2012) têm elevado os custos para o setor. "O nível de estoques acima do desejável também tem impactado no uso da capacidade", reiterou Castelo Branco. Em junho foi observado uma "certa redução desses acúmulos em alguns segmentos estimulados pelas políticas econômicas [como o de automóveis, que teve uma redução no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)]", citou.

A pesquisa da CNI também mostrou que o faturamento real da indústria subiu 2,9% em junho, ante maio, feitos os ajustes sazonais, e aumentou 2,4% na comparação com o mesmo mês do ano passado. O emprego dessazonalizado cresceu 0,3% em junho na comparação com o mês anterior, mas teve retração de 0,2% ante junho de 2011. O número de horas trabalhadas aumentou 1,8% na indústria em junho, ante maio, com ajuste. Ante junho de 2011, contudo, houve diminuição de 1,8%.