Título: Matec define plano para abertura de capital em 2007
Autor: Boechat, Yan
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2006, Empresas, p. B8

Depois de muito titubear em seguir os passos de suas principais concorrentes, a Matec Engenharia decidiu que abrirá seu capital no Novo Mercado da Bovespa. Nesse momento, duas consultorias estão fazendo uma espécie de "due diligence" interna para traçar um mapa dos pontos fortes e fracos da empresa. O plano da construtora prevê que, em 60 dias, a Matec inicia a primeira auditoria oficial e independente de seus balanços. Até janeiro próximo a empresa deve pedir seu registro de companhia aberta à CVM para, então, estruturar uma oferta pública com o objetivo de captar entre R$ 500 milhões e R$ 700 milhões no mercado financeiro já em 2007.

Com um faturamento declarado de R$ 600 milhões em 2005 - a empresa ainda não tem balanços auditados de forma independente que comprovem esses números -, a Matec faz parte das grandes companhias brasileiras do setor da construção civil no ramo imobiliário. Levando em conta sua receita, seria maior que a Gafisa, que a Rossi e quase do tamanho da Cyrela, que faturou cerca de R$ 688 milhões no ano passado.

Mesmo com dimensões que atrairiam boa parte dos investidores que despejaram cerca de R$ 4 bilhões nas cinco empresas do setor que abriram o capital nos últimos 12 meses, a Matec adotou uma postura mais conservadora e preferiu não surfar na primeira onda de captações.

A explicação, segundo seu presidente e fundador, Luiz Augusto Milano, é de que, para ele, a maré está mais forte do que muitos dos nadadores podem realmente suportar. "Houve e está havendo uma loucura no setor, metade das empresas que abriram e vão abrir o capital esse ano não conseguirão dar o retorno esperado pelos investidores", diz o empresário. "Não vai demorar muito para que essas ações percam liquidez e se tornem papéis de segunda ou terceira linha", aposta.

Para não se afogar no que considera um "tsunami financeiro", Milano diz ter passado o último ano fazendo uma ampla reestruturação na empresa. Reduziu custos, investiu em tecnologia e reformulou a estrutura hierárquica interna. "Não estávamos preparados para garantir os retornos que estão sendo exigidos pelos investidores, seria uma abertura de capital oportunista se tivéssemos ido para a Bolsa nesse ano", diz ele.

-------------------------------------------------------------------------------- Preparação inclui redução de custos, investimento em tecnologia e reformulação da estrutura hierárquica --------------------------------------------------------------------------------

Por conta disso, afirma o empresário, o crescimento da receita em 2006 será tímido, algo como 5%. Mas no próximo ano, garante, a empresa deve registrar uma expansão próxima de 20%.

Apesar da cautela, oportunidades não faltaram para a Matec ir buscar recursos no mercado acionário. Segundo Milano, desde o ano passado sua empresa foi procurada por mais de dez bancos interessados em estruturar uma oferta pública. "Só no último mês foram quatro", afirma. "Semana passada um grande banco me procurou me convidando a fazer uma emissão de debêntures de R$ 100 milhões, como se isso fosse a coisa mais simples desse mundo", conta.

Para atender essas fortes demandas de crescimento, a Matec, agora, também quer se tornar um empreendedora imobiliária do ramo residencial. Hoje a empresa é focada nos segmentos comercial e industrial, áreas que lhe garantem 80% de sua receita. Entre outras obras, no momento está construindo o primeiro shopping center de Balneário Camboriú (SC) e a sede de área de diagnósticos da Roche do Brasil. No seu currículo conta com empreendimentos famosos, como a nova loja da Daslu e vários shopping centers paulistanos, como o Anália Franco e o SP Market.

No segmento residencial, entretanto, atua apenas como uma construtora. Ou seja, não planeja, não comercializa e não estrutura a operação de financiamento dos compradores. Trabalha quase como uma empresa terceirizada de outras empreendedoras, como a Cyrela e a Multiplan, duas de suas parceiras.

Com as perspectivas de ampliação do crédito imobiliário e a tendência de queda nas taxas de juros, a Matec pretende entrar em um segmento que foi abandonado pelas empresas do setor ao longo dessa década: os imóveis de padrão popular. Com uma parte dos recursos que pretende captar, a idéia é desenvolver projetos para a classe média baixa e construir casas e apartamentos com valores entre R$ 50 mil e R$ 100 mil. "Se os juros chegarem a um dígito não conseguiremos dar conta da demanda que virá", diz Milano.