Título: Dispersos, indicadores da CNI mostram emprego em alta e vendas em queda
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2006, Brasil, p. A2
A economia está "andando de lado" - o que significa crescimento moderado -, mas o consumo das famílias mantém uma perspectiva positiva, apesar do câmbio apreciado abrir mais espaço para os importados. Na outra ponta, o emprego industrial sobe há nove meses consecutivos, mas o mesmo movimento não vem ocorrendo com as horas trabalhadas na produção e as vendas reais do setor. A análise é dos economistas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com base nos indicadores industriais de agosto que mostram esse quadro de "dispersão".
As vendas de agosto mostram que o mês ainda não recolocou a economia em um ritmo mais forte de atividade. As vendas reais da indústria recuaram 1,13% em relação a julho na série com ajuste sazonal (que desconta fatores sazonais e permite a comparação entre dois período diferentes). Na mesma comparação, o pessoal empregado teve ligeiro aumento (0,21%) e as horas trabalhadas ficaram estáveis (0,11%). Apesar da queda das vendas em agosto, a CNI reafirmou que a tendência é de expansão moderada em 2006.
De janeiro a agosto, as vendas reais da indústria recuaram 0,08% mas, no mesmo período, o pessoal empregado elevou-se 1,60% e as horas trabalhadas foram 1,05% maiores que as do mesmo período no ano passado. Na comparação dos indicadores industriais de agosto com o mesmo mês em 2005, a CNI verificou que as vendas reais aumentaram 3,91%, o pessoal empregado cresceu 2,28% e as horas trabalhadas elevaram-se 1,69%.
Para a CNI, há várias hipóteses para o "descolamento" positivo do emprego, observado na comparação entre os primeiros oito meses de 2005 e 2006 e também entre agosto e julho passados. O fenômeno pode ter ocorrido pela maturação de investimentos que exigiu mais mão-de-obra. Ou, talvez, pela substituição de horas extras por contratações. A formalização do emprego e algum otimismo empresarial também podem ter contribuído para a ampliação do emprego industrial que vem desde dezembro. Essas são as apostas dos economistas da CNI, Flávio Castelo Branco e Paulo Mol, mas ainda não há um quadro nítido.
O aumento do pessoal empregado na indústria supera o crescimento das horas trabalhadas na produção. Normalmente, o emprego é um indicador que demora a responder quando a atividade industrial aumenta ou recua. Isso porque os custos de contratação e demissão são altos no Brasil. Mas, o que vem ocorrendo atualmente é um comportamento diferente do pessoal empregado na indústria.
Se o emprego vai bem, o câmbio vem atrapalhando o faturamento das indústrias. Essa é a explicação de Castelo Branco para a variação negativa do indicador das vendas reais. A moeda brasileira valorizou-se 14% em 2006. Segundo a CNI, as exportações representam aproximadamente 25% do faturamento indústrial.
Na análise da CNI, a queda dos juros desde setembro de 2005 ainda não provocou forte impacto na atividade industrial. Pelo contrário, Castelo Branco afirmou que o IPCA mostra que a desinflação foi forte demais. Portanto, ele avalia que o Banco Central poderia ter baixado os juros antes.
A CNI, contudo, aposta na continuidade do cenário positivo no consumo das famílias, que vem crescendo como em 2004. A tendência da queda dos juros continua e a inflação baixa também favorece a massa salarial. Mas a participação de bens de consumo importados (incentivada pelo câmbio) deve aumentar.
Os economistas da CNI já tinham verificado que a valorização do real vem estimulando as indústrias a comprarem insumos produzidos no exterior. Além disso, pela mesma causa, as cadeias de varejo tendem a oferecer mais bens de consumo importados. "Os efeitos da valorização do câmbio vão se tornando permanentes", alertou Castelo Branco. Apesar disso, a expectativa das vendas para o final do ano é de crescimento em relação a 2005. Portanto, o consumo continua aquecido e isso estimula a produção industrial.
O câmbio também vem mudando o perfil das exportações, diz a CNI. O aumento das vendas externas será bem menor que nos anos anteriores. A quantidade das exportações deve subir apenas 2,5% neste ano, segundo a projeção da entidade. Mas no lado das importações, o que se espera é um salto de 16,5%. Os setores exportadores mais dinâmicos, na avaliação da CNI, são: alimentos, petróleo e derivados e extração mineral. Os menos dinâmicos são calçados, madeira e móveis e têxtil e vestuário.
O uso da capacidade instalada na indústria ficou em 81,5% em agosto, o que confirma a estabilidade dos últimos meses. Para a CNI, os indicadores não apontam elevação atípica dos estoques.