Título: Mexicanos vinculam prazo para livre comércio de veículos ao Mercosul
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2006, Brasil, p. A3

O México - que já deixou claro que não aceitará o livre comércio de veículos com o Brasil no ano que vem - quer vincular os prazos do acordo ao que ocorre no Mercosul. Se essa proposta vingar, os automóveis brasileiros podem continuar pagando tarifa para entrar no México por um bom tempo. Brasil e Argentina prorrogaram o acordo automotivo e adiaram o livre comércio desse setor no bloco para 2008.

O raciocínio dos mexicanos é simples: se não existe livre comércio de automóveis nem no Mercosul, por que haveria entre Brasil e México? Mas o Brasil considera o argumento frágil, pois os mexicanos ampliaram o acordo com a Argentina sem condicionalidades. Os dois lados se encontraram na semana passada na Cidade do México, mas avançaram pouco. Uma nova reunião foi marcada para 9 de novembro, em Montevidéu, para aproveitar um encontro do Mercosul.

O México está preocupado com o prejuízo para sua balança comercial desde que firmou o acordo automotivo com o Brasil. Dos US$ 3 bilhões de déficit com o país, US$ 2,2 bilhões correspondem a automóveis e autopeças. O valor é expressivo, mas fica pequeno perto dos cerca de US$ 50 bilhões que o México exporta no setor automotivo. O acordo entrou em vigor em 2003 e permite que um cota de carros ingresse nos dois países sem pagar tarifa. Para este ano, a cota é de 210 mil unidades.

Segundo fontes do setor privado, as fábricas mexicanas não produzem carros populares como no Brasil. O parque automobilístico do país está voltado para veículos pesados, para atender o mercado americano. O objetivo do acordo com o Brasil era exatamente atender o consumidor mexicano com carros baratos.

As montadoras começam a tentar equilibrar esse comércio entre suas filiais mexicanas e brasileiras e estão aproveitando a valorização do real para trazer ao país os veículos mais sofisticados que são feitos no México.

Mas o grande nó do acordo automotivo entre Brasil e México não está nos veículos leves, mas em ônibus e caminhões. O acordo prevê o livre comércio de veículos pesados em 2011. O México não quer aceitar, pois teme a concorrência do Brasil.

Os fabricantes de autopeças brasileiros também estão interessados no acordo com o México. Hoje 130 itens do setor desfrutam de reduções tarifárias no mercado mexicano. Representantes dos dois países chegaram a um acordo na semana passada para incluir outros cerca de 100 produtos. As empresas brasileiras querem aproveitar o mercado de reposição de peças de carros brasileiros que está nascendo no México.(RL)