Título: País quer ampliar acordo com o México
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2006, Brasil, p. A3

O Brasil está negociando melhor acesso para seus produtos no mercado mexicano, um dos maiores da América Latina. Na semana passada, em uma reunião na Cidade do México, diplomatas brasileiros propuseram transformar o limitado acerto de redução de tarifas de importação com o país em um acordo amplo. A atitude do governo reflete uma nova postura da indústria, que, tradicionalmente receosa da concorrência, começa a enxergar mais oportunidades que ameaças no México.

Pela proposta da delegação brasileira, Brasil e México incluiriam todos os produtos no acordo bilateral e reduziriam em pelo menos 30% as tarifas de importação. Para alguns produtos, o corte pode ser maior. Uma lista de exceções seria permitida, mas, mesmo nesses casos, haveria uma redução de 20% nas taxas. Atualmente os dois países possuem um acordo limitado, que contempla apenas 10% dos produtos. Também existe um acordo específico para o setor automotivo.

A resposta do México pode demorar um pouco. Pelo menos até a posse do novo presidente do país, Felipe Calderón, no início do ano que vem. Os diplomatas mexicanos informaram na semana passada que não tinham mandato para negociar, mas que a proposta seria entregue ao futuro governo. Por enquanto, Brasil e México tentarão encontrar pontos em comum e incluir alguns produtos no acordo. Calderón visitará o Brasil nesta sexta-feira. Embora ainda não confirmada, está prevista uma reunião de empresários brasileiros com o presidente eleito para discutir o acordo. Pode ser uma boa oportunidade para convencê-lo.

Com uma economia complexa, o Brasil está atrasado em relação aos sócios do Mercosul nas negociações com o México. Recentemente, a Argentina selou a ampliação do acordo bilateral com o país, que agora contempla 70% do comércio. Entre Uruguai e México, os produtos já circulam livremente. As regras do Mercosul não permitem negociações em separado, mas, no caso do México, os países interpretam os acordos bilaterais como diferentes fases de transição para um futuro acordo com o bloco.

A redução de tarifas prevista pela proposta brasileira está longe de ser ambiciosa. Desde a década de 70, os países que integram a Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) concedem pequenas preferências tarifárias entre si. No entanto, o governo quer criar uma dinâmica positiva para a negociação ao dar uma abrangência geral para o acordo, já que acertos com número limitado de produtos costumam avançar pouco.

Segundo fontes do setor privado brasileiro, o México está reticente em negociar com o Brasil por conta do déficit de mais de US$ 3 bilhões que acumula com o país. "Poderíamos assinar um acordo de livre comércio com o Brasil amanhã, mas precisamos de reciprocidade", rebate uma fonte do governo mexicano. O México insiste com o Brasil por maior abertura em setores como eletroeletrônico e químico. Essa ambição pode estar mais próxima da realidade.

O governo brasileiro solicitou ao setor privado que enviasse seus pedidos de abertura do mercado mexicano. O setor eletroeletrônico produziu uma lista de 160 produtos. Segundo Mário Branco, gerente de exportação da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), existe uma série de itens que o Brasil é competitivo para exportar para o México: compressores para refrigeração, pilhas e baterias, produtos de telefonia, motores elétricos. "Embora exista essa produção no México, somos mais competitivos. O México hoje é mais oportunidade que ameaça", diz.

Os fabricantes de bens de capital também estão interessados. A Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) enviou uma lista de 91 produtos ao governo brasileiro. "O México é um bom consumidor de máquinas, mas não tem produção expressiva", diz o presidente da entidade, Newton de Mello.

Esse otimismo não significa que todas as resistências a um acordo tenham sido vencidas. Alguns setores ainda estão bastante preocupados com as conseqüências de uma abertura à indústria mexicana. É o caso dos fabricantes de produtos químicos.

Renato Endres, gerente de assuntos de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), vê perspectivas na exportação de termoplásticos para o México, mas avalia que há riscos em matéria-prima para poliéster e no dióxido de titânio, utilizado na fabricação de tintas. "Nosso setor não pode servir de compensação para os mexicanos", diz Endres. Ele diz que o intercâmbio no setor químico entre México e Brasil está em US$ 150 milhões, muito abaixo dos mais de US$ 2 bilhões do setor automotivo.