Título: PMDB ficará dividido entre Lula e Alckmin
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2006, Política, p. A7

Os principais caciques do PMDB entraram em acordo e decidiram que apoiarão, nos Estados, o candidato que for mais conveniente politicamente. Ou seja, a exemplo do que ocorreu no primeiro turno, os pemedebistas terão um pé na canoa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outra na do candidato tucano Geraldo Alckmin.

Na avaliação de boa parte da cúpula, especialmente da ala governista, o PMDB lucrou com o fato de não ter lançado candidato próprio a presidente da República: livre para fazer alianças nos Estados, elegeu quatro governadores e seis vices, no primeiro turno, e concorre em outros seis, no segundo. E o partido foi o único cuja bancada cresceu na Câmara, em relação a 2002.

Mesmo em relação ao Senado, para o qual elegeu apenas quatro candidatos, o PMDB faz uma boa avaliação e acredita que pode reivindicar a presidência da Casa em 2007, sobretudo se Lula for reeleito. A legenda tem 13 senadores com mandato até 2011 (dois titulares estão licenciados). Com os quatro eleitos, são 17. Se Roseana Sarney (PFL) for eleita no Maranhão e o tucano Leonel Pavan em Santa Catarina (é candidato a vice de Luiz Henrique), seus suplentes são do PMDB.

O partido conta ainda com a adesão do senador eleito pelo Maranhão Epitácio Cafeteira (PTB), cujo partido não ultrapassou a cláusula de barreira. Assim, poderia contar com até 20 senadores, o que lhe asseguraria o direito de reivindicar a presidência, como é da tradição do Senado. No caso, a reeleição de Renan Calheiros. A equação se inverte se o eleito for Geraldo Alckmin, pois o mais provável é que PSDB e PFL passem a ser os partidos com maior poder gravitacional.

Renan Calheiros participou apenas da primeira reunião do conselho político de Lula, onde o PMDB passou a ser representado por José Sarney e Jader Barbalho. Voltou na reunião de ante-ontem para evitar especulações sobre um eventual desembarque da campanha de Lula. Esse grupo permanecerá com o presidente, mas pode haver mudanças de comportamento em relação ao primeiro turno e mesmo de tendência anterior por um ou outro candidato. Dois casos são exemplares dessa situação.

O primeiro é o Rio Grande do Sul, onde o governador Germano Rigotto não conseguiu passar para o segundo turno e a eleição será decidida entre o PSDB e o PT. Os pemedebistas do Rio Grande do Sul deveriam apoiar Alckmin, mas com a tucana Yeda Crusius disputando o segundo turno ficaram em dúvida: não interessa ao grupo permitir o surgimento de um outro pólo de poder no Rio Grande do Sul, Estado em que, nos últimos anos, foi forte a polarização PT-PMDB.

O outro caso exemplar é o Paraná: a tendência natural do governador Roberto Requião seria a de apoiar Lula agora no segundo turno. Ele já apoiou a candidata do PT ao Senado. Além disso, o senador Álvaro (PSDB) e seu irmão Osmar Dias (PDT), candidato ao governo, devem apoiar Geraldo Alckmin. Mas Requião está em dúvida por causa das dificuldades enfrentadas por Lula no Paraná, assim como em todos os Estados nos quais o agronegócio se julga prejudicado pela política do governo federal.

No Rio Grande do Norte, o senador Garibaldi Alves deve declarar neutralidade, devido ao poderio eleitoral demonstrado por Lula no Nordeste, ou apoiar a candidatura de Geraldo Alckmin. O problema do senador, que presidiu a CPI dos Bingos, é que Lula já declarou apoio à candidatura da governadora Vilma Faria, que é do PSB. Na Paraíba, o senador José Maranhão negocia o apoio do PT no segundo turno. Se conseguir, pode declarar apoio ao presidente.

Lula reafirmou ao PMDB governista a intenção de formar uma coalizão com o partido, num eventual segundo mandato. Apesar da descrença da ala do PMDB hoje na oposição ao presidente, um ministro próximo ao presidente disse ao Valor que o governo fará uma tentativa de atrair todo o partido, inclusive o grupo ligado ao atual presidente da legenda, Michel Temer, que ontem declarou apoio ao candidato Geraldo Alckmin.