Título: Ministros afastam-se do cargo para fazer campanha
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2006, Política, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ampliou, ontem, em diversas reuniões, a ofensiva de campanha para tentar a reeleição no dia 29 de outubro. Hoje, Lula reúne-se, no Palácio da Alvorada, com os governadores aliados eleitos em primeiro turno - entre nove e dezessete. Ontem, jantou com o vice-presidente, José Alencar, e com o senador Marcelo Crivella (PRB) - derrotado na eleição para governador do Estado do Rio de Janeiro. Mais cedo, o petista Jaques Wagner, eleito em primeiro turno para o governo da Bahia, colocou-se à disposição do presidente - "sou um soldado, pau para toda obra, para rodar o Estado e, se necessário, o Brasil, pedindo votos para Lula", dando sinais de que poderá, na prática, ocupar o espaço hoje pertencente ao secretário de Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, na coordenação geral de campanha.

Na Esplanada dos Ministérios, o segundo turno também começa a provocar mudanças. O ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, entra de férias nesta sexta para fazer campanha. De acordo com a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), outros três integrantes do primeiro escalão podem seguir o mesmo caminho: Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Hélio Costa (Comunicações) e Luiz Marinho (Trabalho). Ideli chegou a afirmar que todos se licenciariam para pedir votos para o presidente. No início da noite, a Casa Civil desmentiu a notícia. Na prática, não existe a figura de ministro licenciado. Por isso, as férias de Walfrido.

Apesar de ter eleito, em primeiro turno, quatro governadores - Binho Marques (Acre), Marcelo Déda (Sergipe), Jaques Wagner (Bahia) e Wellington Dias (Piauí) -, o maior problema do PT continua sendo nas regiões Sul e Sudeste do país, onde o candidato tucano, Geraldo Alckmin, levou vantagem sobre o presidente. "Os ministros mineiros estão loucos para ir à rua fazer campanha por Lula", afirmou Ideli.

Luiz Marinho representaria outro braço deste movimento. Ministro próximo ao presidente Lula, tem ampla ascendência sobre o movimento sindical, por ter sido presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em São Paulo, ganha força na articulação a ex-prefeita Marta Suplicy. "Tanto o companheiro Mercadante quanto Marta são nomes que podem dar uma grande contribuição nesta etapa da campanha", confirmou o ministro da coordenação política, Tarso Genro. Questionado se Marta não estaria em vantagem, pela eleição de cinco dos 14 petistas de São Paulo para a Câmara Federal e pelo envolvimento de um assessor direto de Mercadante com o dossiê Vedoin, Genro limitou-se a dar um sorriso e entrar no elevador.

O presidente Lula sabe que precisa ampliar alianças se quiser bloquear a rota ascendente do tucano Geraldo Alckmin. Estava prevista uma série de ligações do presidente para todos os governadores eleitos em primeiro turno, incluindo os tucanos José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas Gerais), fundamentais na arrancada final de Alckmin. A assessoria do Palácio do Planalto, contudo, passou toda a tarde de ontem reunida a portas fechadas e não confirmou com quem Lula conversou por telefone. Sabe-se, porém, que o presidente falou com Serra e Aécio.

O governador eleito Jaques Wagner teve recepção de pop star ontem no gabinete presidencial. Foi convidado, inclusive, para passar a noite no Palácio da Alvorada. Ao ser fotografado junto ao presidente, Lula lançou uma provocação aos fotógrafos. "Vão agora lá no Senado fotografar o ACM (Antonio Carlos Magalhães) para ver a cara dele", disse o presidente.

Wagner repetiu o discurso agressivo de Ciro Gomes, na noite anterior, contra PSDB e PFL. "Não creio que eles tenham autoridade moral para falar de qualquer assunto relativo a ética", afirmou Wagner. O tom dos ataques é mais um ponto da nova estratégia petista: deixar para os aliados, petistas e ministros, a tarefa de atacar os tucanos. Lula não fará isso. "Eles (a oposição) querem posar de vestais, com o PFL no meio? Quem são eles para falar de ética? Vamos entrar nesse debate sim", confirmou o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo.

Normalmente ponderado em suas declarações, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, entrou na estratégia geral, afirmando que a "a oposição não tem qualquer credibilidade para cobrar qualquer coisa do PT". Mas continua confinate em uma vitória de Lula. "É uma questão aritmética. Em 1989, Lula foi para o segundo turno com 17%; em 1994, teve 27% dos votos; em 1998, 31,71%; em 2002, 46,4% no primeiro turno e, agora, teve 48,6%. É um eleitorado consolidado, que vem crescendo a cada eleição".

Pimentel defende o trabalho incessante e a busca de ampliação mais rápida do arco das alianças. Mas afirmou que, para Lula, faltam um ponto e meio percentual para vencer as eleições. Para Alckmin, faltam pouco mais de oito pontos percentuais. "Os tucanos terão que conseguir todos os votos da Heloisa Helena (PSOL) e de Cristovam Buarque (PDT). Nós, precisamos de um a cada sete. Se não for essa a conta, não entendo de eleição nem de matemática", declarou o prefeito petista.