Título: Defesa do PP rejeita tese de que deputados recebiam mesada para votar
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2012, Política, p. A6

A tese de que o mensalão envolveu pagamentos sistemáticos e periódicos de dinheiro para deputados, como mesada, começou a ser contestada, ontem, com a defesa de advogados dos réus ligados ao PP e a expectativa é a de que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) percam longas horas ao ouvir argumentos semelhantes por mais três dias seguidos. A mesma teoria deve ser apresentada, hoje, por defensores de réus do PR (ex-PL), na segunda-feira, quando vão falar os representantes dos réus do PTB, e na terça-feira, quando, finalmente, será feita a defesa de ex-deputados do PT.

Segundo o advogado Marcelo Leal, defensor de Pedro Corrêa, o PP - partido do qual o réu era presidente, em 2005, quando estourou o escândalo do mensalão - sempre votou a favor de reformas estruturantes, como a da Previdência e a tributária. "O PP não precisava receber para votar como sempre votou." Corrêa foi o terceiro e último deputado que foi cassado por causa do mensalão, além de José Dirceu e de Roberto Jefferson.

Assim como os advogados dos réus do Banco Rural disseram que os empréstimos feitos ao PT e às agências de Marcos Valério foram concedidos por José Augusto Dumont, que morreu, em 2004, Leal afirmou que foi José Janene, ex-deputado morto em 2010, quem fez transações do PP. O advogado argumentou que a ligação entre o PP e a corretora Bônus-Banval, apontada pelo Ministério Público como responsável por repassar os recursos das empresas de Marcos Valério ao partido, era de responsabilidade de Janene, um dos 40 réus iniciais do mensalão. Mesmo assim, Leal assegurou que as transações foram legais.

O advogado alegou que não houve ocultação ou lavagem de dinheiro, pois o assessor de Janene, João Claudio Genu, assinava recibos ao pegar os recursos disponibilizados por Simone Vasconcelos, funcionária de Valério. "Todos os recursos repassados pela Bônus-Banval diziam respeito a campanhas políticas, e não à compra de deputados no Congresso", afirmou.

O advogado Maurício Maranhão de Oliveira, que defende Genu, também procurou ligá-lo a Janene. Genu sacou R$ 1 milhão das empresas de Valério. "Ele era um mero assessor parlamentar e atuou como mensageiro", disse Oliveira.

Já o advogado do deputado federal Pedro Henry (PP-MT) atribuiu tanto ao falecido Janene quanto a Genu eventual culpa nos episódios que envolvem o seu cliente com o mensalão. Na época do escândalo, Henry era líder do PP na Câmara. Ele foi acusado de participar de negociações para o PP obter R$ 3 milhões do PT, por meio da Bônus-Banval, em troca de apoio político. "Ficou amplamente demonstrado que Henry não detinha qualquer influência na parte financeira do partido", disse o advogado José Antonio Duarte Alvares, advertindo que Janene era o tesoureiro do PP. Para o advogado, o Ministério Público não comprovou o recebimento de R$ 3 milhões pelo PP, mas somente de R$ 700 mil, em três saques feitos por Genu, e não por seu cliente.

Duarte admitiu que Henry participou de duas a quatro reuniões na casa do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), além de encontros com José Genoino, o ex-presidente do PT, para tratar de questões "sempre políticas, jamais financeiras".

O sexto dia de julgamento foi encerrado com a defesa de Enivaldo Quadrado, dono da Bônus-Banval. O advogado Antonio Sergio Pitombo afirmou que a conduta de Quadrado "é corriqueira para o mercado financeiro" e que, se houve lavagem de dinheiro essa prática teria sido cometida pelo Banco Rural. "A Bônus-Banval não é uma corretora de fachada", disse Pitombo. (JB, MM e FEx)