Título: PT quer impedir Demóstenes de atuar como promotor
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2012, Política, p. A7

O PT irá defender na próxima reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira que seja aprovada uma representação ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra o ex-senador Demóstenes Torres (GO). O objetivo é que ele fique impedido de atuar como promotor de justiça em seu Estado, Goiás.

A avaliação do partido é que Demóstenes, que perdeu os direitos políticos após ter seu mandato cassado no Senado em julho, integra o grupo do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e que seu retorno à atividade profissional auxilia o principal investigado na comissão e seu grupo a se manterem impunes. Principalmente pelo fato de o irmão de Demóstenes, Benedito Torres, ser o procurador-geral de Justiça de Goiás.

Na avaliação do PT e de integrantes da CPI ligados ao governo, a presença de Demóstenes nos quadros do Ministério Público goiano só reforça um quadro já constatado por eles: o de que crimes contra autoridades do Estado investigados por parlamentares não têm andamento. Isso tem sido traduzido na demora de remessa de documentos á comissão de órgãos do Estado, como filmagens de segurança feitas na entrada do Palácio das Esmeraldas -sede do governo goiano- ou mesmo interrupção ou lentidão nas investigações internas da Procuradoria goiana.

Por essa razão, além do requerimento para que o CNMP avalie a situação de Demóstenes, será pedido ainda ao Conselho que envie à CPI cópia do procedimento instaurado em face do irmão de Demóstenes.

A sessão de terça-feira, onde serão votados outros requerimentos apresentados pelos integrantes da comissão, deve ser tensa. A razão é a avaliação generalizada de que a CPI perdeu o rumo e está sem identidade. E perdeu os holofotes, tendo em vista o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal.

Nesse sentido, tanto os parlamentares ligados ao governo, quanto à oposição e mesmo os "independentes" tentarão fazer com que essa reunião administrativa sirva para dar o curso à CPI conforme queiram. O próprio gesto petista de intensificar a artilharia sobre Goiás é vista por integrantes da CPI como uma forma de, mais uma vez, evitar que as investigações extrapolem o Estado.

Mas o principal embate agora é quanto aos depoimentos mais esperados da comissão, como do ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antonio Pagot, o ex-presidente da Delta, Fernando Cavendish, e o ex-diretor da Desenvolvimento Rodoviario S.A. (Dersa) Paulo Viera de Souza, o Paulo Preto.

A oposição pretende adiar os depoimentos para depois das eleições municipais de outubro, uma estratégia dupla de, primeiro, deixar o julgamento do mensalão dominar o noticiário. Depois, de obrigar a CPI a estender seus trabalhos além do prazo previsto. Seu prazo final é o dia 4 de novembro, um domingo, data limite para a apresentação e aprovação do relatório do deputado Odair Cunha (PT-SP). Ao jogar os depoimentos para depois das eleições, o prazo para elaboração do relatório, muito próximo a esses depoimentos, fica exíguo.

Por outro lado, o PT pretende antecipar a data desses depoimentos para que as sessões rivalizem com as do mensalão. Mas também porque, assim, conseguem se programar para evitar a extensão dos trabalhos da CPI. Se isso ocorrer, a oposição ganha mais tempo para investigar a Delta ou obras do PAC, o maior temor para o governo. Além disso, aumenta as chances de que a oposição elabore relatório paralelo que contraste com o do relator petista.