Título: "Ricos têm que aprender conosco"
Autor: Verdini, Liana
Fonte: Correio Braziliense, 11/11/2010, Economia, p. 14

Lula diz que agora é a vez de os países desenvolvidos tirarem lições dos brasileiros Às vésperas de sua viagem à Coreia do Sul para participar da reunião do G-20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que os países ricos deveriam aprender com as medidas adotadas pelo Brasil para sair da crise financeira global. "Como os países ricos habitualmente tentavam dar lições ao Brasil de como deveria fazer, seria importante que, humildemente, agora eles aprendessem o que nós fizemos (para tirar o país da crise). Seria bom que eles adotassem políticas iguais", disse, após jantar com o presidente de Moçambique, Armando Guebuza, em Maputo, na terça-feira à noite.

Lula afirmou que, quando ocorriam crises econômicas no Brasil e em outros países pobres ou em desenvolvimento, sempre havia alguém do mundo desenvolvido para "dar palpite". Segundo o presidente, depois da crise econômica iniciada em 2008 nos países riscos "ninguém deu palpite". "Eu estou dando o palpite. Façam como se fez no Brasil que a coisa fica mais fácil", defendeu o presidente, segundo informações do site da Presidência da República.

Consumo Ele disse que a solução da crise financeira passa pelo aumento do comércio entre os países e pela elevação do consumo e da produção. Lula voltou a criticar China e Estados Unidos por estarem com suas moedas desvalorizadas, o que aumenta a competitividade desses países. "É preciso que o câmbio seja flutuante, mas que haja um equilíbrio entre as políticas cambiais", afirmou.

COUTINHO PREVÊ PRESSÃO » A colocação de US$ 600 bilhões pelo governo americano no sistema financeiro fará com que o Brasil passe por um período "marcante" de pressão cambial, na avaliação do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. "Existe um processo de relaxamento monetário nos Estados Unidos, que está inundando o mercado mundial de liquidez", disse ele a jornalistas, após participar de evento promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (INAE). "Isso tende a pressionar as moedas flutuantes, especialmente nos países onde há perspectiva de crescimento econômico e atração de capitais. Isso exerce, naturalmente, uma pressão forte sobre o real", acrescentou.

OBAMA FAZ APELO

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, procurou mudar o foco do G-20 para os desequilíbrios globais e tirar de evidência as políticas de seu país, enquanto líderes globais se reuniam em Seul. Ao chegar para a cúpula de dois dias do G-20, Obama, que enfrenta críticas à política norte-americana de estímulos monetários, disse que uma economia forte dos EUA é vital para a recuperação mundial, e pediu que os colegas do grupo deixem de lado as diferenças e façam sua parte para incentivar o crescimento econômico.

"Quando todas as nações fazem sua parte, nós todos nos beneficiamos do crescimento mais alto", disse Obama, em carta enviada aos líderes do G-20. A agência Reuters divulgou ontem o teor do documento, enviado aos demais mandatários na terça-feira. Críticos dizem que a política do Federal Reserve enfraquece o dólar em detrimento a outras nações, mas Obama afirmou que a força do dólar depende da força da economia norte-americana.

Na carta, Obama buscou retornar a discussão sobre os desequilíbrios globais e insistiu que os EUA não são o único país que precisa mudar suas maneiras para conduzir uma recuperação estável e forte. "Assim como os Estados Unidos precisam mudar, também precisam aquelas economias que dependeram anteriormente de exportações para ofuscar a fraqueza de sua própria demanda", disse Obama, em referência indireta à China.