Título: Resultados das eleições ampliam a influência do PT nordestino no partido
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2006, Política, p. A9

O PT ganhou uma feição mais nordestina em sua nova bancada de 83 deputados, cuja composição foi divulgada ontem pelo partido. Com seis deputados a menos do que elegeu em 2002, o partido ganhou um novo eixo. Os parlamentares da região passaram de 17 para 23, enquanto os paulistas recuaram de 18 para 14 integrantes. Dos quatro governadores eleitos pelo PT, três são do Nordeste (Bahia, Sergipe e Piauí) e a região ainda é o sustentáculo eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno.

O Nordeste ganha peso no momento em que o presidente do PT, o deputado federal Ricardo Berzoini (SP), está acuado pelo envolvimento de assessores diretos seus na tentativa de compra de um dossiê contra tucanos. A pressão por mudanças dentro do partido já começou. Ontem, em Brasília, o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, voltou a defender uma reavaliação da conduta do partido e punições internas.

"É preciso reformular a política do PT e mexer na estrutura partidária. Não podemos ter um comando interno que tratou São Paulo como prioridade em uma eleição de caráter nacional", disse o deputado federal Walter Pinheiro (BA) pertencente à corrente interna Democracia Socialista, que disputou a presidência da sigla contra Berzoini.

No equilíbrio interno do PT, o Nordeste foi a única região que cresceu. Os deputados do Sul caíram de dezenove para treze integrantes, enquanto os de Minas, Rio e Espírito Santo somavam 19 e hoje são 16. Os das regiões Norte e Centro-Oeste caíram de 18 para 16.

As bancadas petistas recuaram ou ficaram iguais em praticamente todos os Estados. As exceções foram Amazonas, onde não tinha ninguém e elegeu um representante, Pernambuco, onde passou de três para cinco deputados, Bahia, onde foi de sete para oito, Ceará, onde passou de dois para quatro e Piauí, onde evoluiu de um para dois.

Enquanto o PT caminha para o Nordeste, o PSDB se paulistaniza cada vez mais. O número de deputados tucanos nordestinos caiu de 22 para 18, enquanto o de tucanos paulistas subiu de 11 para 17, em um contexto onde a bancada do PSDB recuou de 71 eleitos em 2002 para 65, segundo informações do partido.

Isto fez com que o percentual de tucanos do PSDB na Câmara pulasse de 15% em 2002 para 26% este ano. Proporcionalmente, é uma força interna superior a do carlismo baiano dentro do PFL (onde terá o comando de 20% dos deputados). Dificilmente o governador eleito José Serra deixará de ser a voz fundamental dentro do partido para a escolha de seu comando parlamentar, caso o candidato do partido à Presidência, Geraldo Alckmin, não se eleja.

São Paulo foi um dos raríssimos Estados onde a bancada do PSDB cresceu: o mesmo se deu apenas no Maranhão, onde passou de dois para quatro parlamentares, e no Mato Grosso do Sul, onde não tinha nenhum representante e elegeu um.

Em Minas, mesmo com a estrondosa vitória de Aécio Neves, os tucanos mineiros caíram de oito para sete integrantes na Câmara. No Ceará do presidente nacional da sigla, senador Tasso Jereissati, o PSDB recuou de oito para cinco deputados.

No PMDB, o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, permanecerá como a liderança mais forte, ao eleger no Rio de Janeiro dez dos 89 deputados da sigla, segundo dados divulgados pelo partido. Mas a sigla continua muito mais descentralizada na Câmara do que o PT, PSDB e PFL. Nestes partidos, a principal base política - São Paulo em ambos os casos - representa respectivamente 17% e 29%. No PFL, o maior reduto - a Bahia - significa 20% da bancada de 65 deputados, segundo informação partidária. No PMDB, o Rio de Janeiro é 11,2% do total.

O PMDB também permanece como o partido com maior capilarização. Elegeu deputados em 26 das 27 unidades da federação. O PT o fez em 24 Estados. O PFL, em 23. O PSDB em apenas 20.

O PFL foi duramente atingido em suas principais bases. Em relação a 2002, caiu na Bahia de 19 para 13 deputados, recuou em Minas Gerais de sete para cinco parlamentares e no Piauí, de quatro para dois, minguou em Pernambuco, de cinco para três integrantes e despencou no Maranhão, de sete para dois congressistas.

No Rio de Janeiro, o prefeito da capital Cesar Maia aumentou ligeiramente seu patrimônio político, com a seção estadual da sigla passando de quatro para cinco deputados federais eleitos. O partido também cresceu no Paraná (de dois para cinco deputados), Distrito Federal (de um para dois), Pará (de um para dois), Rio Grande do Sul (de um para dois) e Santa Catarina (de dois para três). Transformou-se em um partido menos concentrado no Nordeste : a região concentrava 44 deputados após a eleição de 2002, ou 52% da bancada de 84 parlamentares que elegeu naquele ano. Agora, houve uma redução drástica do Nordeste no PFL, indo para 27 parlamentares, ou 41% do total.