Título: Falta diesel na Argentina e empresas terão de importar
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2006, Internacional, p. A11

Com a oferta de combustíveis no limite, as petroleiras entraram na mira do governo argentino. Apenas nos últimos oito dias, autoridades do governo Nestor Kirchner obrigaram as empresas a submeter as exportações à autorização prévia, suspenderam a venda de um novo produto da Shell e agora a Secretaria de Energia obrigou a Petrobras e a Repsol YPF a importarem mais diesel para aliviar a falta do combustível que atinge os produtores agrícolas.

A decisão de forçar a importação foi comunicada à Sociedade Rural Argentina (SRA) numa reunião na segunda à noite. Segundo Ernesto Ambrosetti, economista da entidade, o subsecretário de Energia, Cristian Folgar, prometeu elevar a oferta de diesel importado em 100 milhões de litros entre esta semana e a próxima, para aliviar o déficit do combustível que atinge a agricultura e ameaça o plantio e a colheita de grãos no país.

O governo argentino vem sendo duramente criticado dentro e fora do país por sua interferência no mercado, principalmente nos setores de eletricidade, petróleo e gás, nos quais há risco de escassez. O controle de preços e de exportações são apontados como causa para o baixo investimento no setor, que reduz ainda mais a oferta. As refinarias do país já operam no máximo da capacidade instalada.

Na semana passada, a Secretaria de Comércio obrigou a Shell a retirar de circulação um novo produto que tinha acabado de lançar, o óleo aditivado VPower, e submetê-lo a análise por mais um mês, para posterior autorização. O motivo foi o preço do VPower, fixado em 1,649 pesos por litro, 10% mais caro que o óleo comum vendido pela empresa. A iniciativa da Shell foi interpretada pelo governo como um drible no controle de preços.

A importação não tem sido um bom negócio para as petroleiras instaladas na Argentina, já que o governo estabeleceu tetos para a venda interna que equivalem à metade dos preços praticados nos países vizinhos de onde vêm os combustíveis, como Uruguai e Brasil. A exportação, que poderia compensar o controle interno, está rigorosamente restrita. No último fim de semana, a Secretaria de Energia publicou Resolução no Diário Oficial, de número 1.338, que obriga as petroleiras a submeter a autorização prévia as vendas externas de diesel, querosene e nafta, ampliando o controle que já havia sobre a gasolina e o petróleo.

No caso da agricultura, os produtores vinham alertando para o risco que corria a produção de grãos no país caso perdurasse a falta de combustíveis, situação agravada por uma das piores secas que o país já enfrentou.

Essa semana começou a chover nas regiões produtoras, mas a SRA calcula que o déficit de diesel para abastecer os tratores, colheitadeiras, caminhões e máquinas agrícolas necessárias para o plantio e colheita de grãos atingiu 60 milhões de litros nesta safra. "A escassez de combustíveis vai atrasar o cultivo e prejudicar o rendimento de culturas como milho, girassol e soja este ano", comentou Ambrosetti.

Por enquanto, o problema não atingiu o trigo, produto do qual o Brasil é um dos maiores importadores. Segundo Alberto España, presidente da Federação Argentina da Indústria Moageira do Trigo (Faim), a seca é o maior problema e já reduziu em um milhão de toneladas as estimativas de produção de trigo para 2006, de 14 milhões para 13 milhões de toneladas.