Título: E, no meio disso tudo, pode ser que Gore reapareça
Autor: Silva, Carlos
Fonte: Valor Econômico, 26/02/2007, Internacional, p. A9

Já basta. As primárias acontecem só daqui a 11 meses e a disputa eleitoral já parece velha. Os cidadãos de Iowa e New Hampshire - onde são realizadas as primeiras primárias - estão ansiosos para que chegue o dia em que eles possam visitar um fast-food qualquer sem ter de se encontrar com Hillary Clinton ou Rudy Giuliani.

E, enquanto isso, a imprensa traz as mesmas matérias e as mesmas perguntas de sempre. Será que Barack Obama pode concorrer à Presidência e parar de fumar ao mesmo tempo? Será que Hillary vai entregar sua cadeira no Senado para Bill se ela for eleita? Os americanos estão preparados para um presidente mórmon (Mitt Roomey)? Ou para um negro (Obama)? Ou para uma mulher (Hillary)? Ou para um homem que uma vez apareceu vestido como Marilyn Monroe (Giuliani)?

Não há falta de dinheiro ou de idéias: os cofres dos candidatos estão transbordando e os think-tanks preparam estudos políticos em série. Mas o que realmente falta é atenção. As pessoas não vão conseguir assistir durante meses à mesma novela, repetida 24 horas por dia nas TVs a cabo e multiplicada na blogosfera, sem se enjoarem dos personagens principais?

Isso significa que há um enorme espaço para que alguém apareça de repente e roube o show. Esse personagem não terá somente a vantagem de ser uma cara nova. Ele ou ela poderá também mudar toda a dinâmica da disputa eleitoral, atraindo força suficiente para provocar tempestades sobre em Iowa e New Hampshire.

E aí é que entra em cena Al Gore. Ele é um nome nacional capaz de obter uma credibilidade instantânea. Tem amigos ricos para financiá-lo. E além disso estará no centro das atenções nos próximos meses: seu filme "Uma Verdade Inconveniente" foi um documentário de muito sucesso e ele ainda pode ser escolhido para o Nobel da Paz neste semestre.

Gore é o candidato ideal para os filiados ao Partido Democrata que não queiram votar nas primárias. Posicionou-se fortemente contra a invasão do Iraque. Passou os últimos seis anos alertando o mundo sobre o aquecimento global. E teve sua vitória eleitoral em 2000 roubada pelo homem mais odiado pelos democratas.

Há alguma forma melhor para acabar com a era Bush do que subsitituí-lo pelo político que deveria ter sido presidente?

Gore insiste que não quer concorrer novamente. Mas será que resiste? Seria uma dos maiores dramas da história política dos EUA.

James Carville, um habilidoso observador dos políticos, diz que, para eles, concorrer à Presidência é melhor do que, para as pessoas comuns, fazer sexo: não é algo que você faça só uma vez, caso você tenha algo a dizer.