Título: Mais volátil, novo PIB dificulta previsões
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 26/02/2007, Brasil, p. A5

A metodologia de cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) vai mudar para melhor, mas os resultados serão mais voláteis e será mais difícil fazer previsões daqui para frente. Essa é a opinião dominante de economistas de bancos e consultorias sobre as alterações promovidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no cálculo do PIB, que virão a público em 21 de março.

Há também a expectativa - esta não tão generalizada - de que os números sobre o desempenho da economia de 2003 em diante deverão ser revisados para cima, principalmente por causa da mudança na forma de se calcular o comportamento da administração pública. O IBGE vai passar a levar em conta a variação do pessoal ocupado no setor público e do consumo de capital fixo do governo, em substituição ao uso do número do crescimento da população, hoje na casa de 1,39% ao ano.

Como aumentaram as contratações de funcionários públicos no governo Lula, é possível que o crescimento no período seja revisto para cima, avaliam os economista Fernando Fenolio, da Rosenberg & Associados, e Marcela Prada, da Tendências Consultoria Integrada.

Mas, como também mudará a forma de estimar a variação de outros segmentos do PIB, como instituições financeiras e aluguéis, alguns analistas, como Bráulio Borges, da LCA Consultores, acreditam que é prematuro dizer que os ajustes mostrarão um crescimento mais elevado desde 2003.

O ponto consensual é que a nova metodologia deve refletir mais fielmente o comportamento da economia. Fenolio lembra que, além de mudanças como o novo cálculo do PIB da administração pública, serão incorporadas na nova metodologia levantamentos setoriais do IBGE, como a Pesquisa Industrial Anual (PIA), a Pesquisa Anual do Comércio e a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC). "Essas modificações são positivas, porque uma quantidade maior de informações já disponíveis será incluída no cômputo do PIB", afirma ele.

A vida dos analistas, porém, vai ficar mais complicada. "Os resultados do PIB serão mais voláteis e as previsões ficarão mais difíceis", diz Borges. Modelos econométricos antigos terão de ser abandonados, e novos terão que ser construídos.

A nova forma de se computar a variação da administração pública é um dos fatores que devem trazer mais volatilidade ao PIB, dizem Borges e Fenolio. Em vez de uma estimativa que leva em conta um indicador que oscila muito pouco - o crescimento da população -, o IBGE passará a usar a variação da população ocupada e o consumo de capital fixo do governo. Como a contratação de funcionários desde 2003 se deu, tudo indica, a um ritmo superior ao da expansão demográfica, Fenolio considera possível que os números do PIB desde 2003 sejam revisados para cima. Marcela também acha possível que a nova medida para o setor público se traduza em elevações do crescimento no período.

Borges tem dúvidas quanto a isso. Ele lembra que, no próprio cálculo da administração pública, também será levado em conta o consumo de capital fixo do governo (como prédios e infra-estrutura pública, segundo Borges). Para o economista, uma hipótese a ser considerada é que o baixo investimento público em infra-estrutura nos últimos anos talvez não tenha sido suficiente para compensar a depreciação do capital fixo do governo. Isso puxaria a variação da administração pública para baixo, podendo ofuscar a contribuição positiva do aumento do número de funcionários.

Os economistas do Credit Suisse notam que haverá alterações em outros segmentos importantes do PIB, como sistema financeiro, aluguéis e outros serviços (que inclui alojamento e alimentação e serviços prestados a empresas), o que torna complicado dizer se as revisões do PIB agregado serão para cima ou para baixo. Eles dizem ainda que haverá a incorporação de números a que os analistas não têm acesso, como microdados de pesquisas do IBGE, como a de emprego, e informações do Imposto de Renda. "Tudo isso mostra que a nova metodologia tornará mais difícil a estimativa do resultado do PIB", reiteram os analistas do Credit Suisse, acrescentando que as revisões feitas todos os anos deverão ser maiores, por incluir os dados das pesquisas anuais do IBGE, a serem computados posteriormente.