Título: PMDB quer candidatura única à presidência da Câmara, diz Temer
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2012, Política, p. A11

O PMDB quer articular a candidatura única do líder da bancada, Henrique Eduardo Alves (RN), à presidência da Câmara dos Deputados, como forma de demonstrar força no Legislativo perante o Palácio do Planalto e o principal aliado, o PT. A disputa ocorrerá em fevereiro de 2013, quatro meses após as eleições municipais de outubro em que todas as previsões apontam para um avanço petista e consequente perda de espaço pemedebista onde ele hoje reina absoluto, os municípios.

"Nosso desejo é que Henrique seja eleito pela totalidade dos partidos, o que não é improvável, pela sua competência. E que ele seja candidato único da Casa", afirmou o vice-presidente da República, Michel Temer, presidente licenciado do PMDB.

Ele compareceu ontem ao ato político que reuniu integrantes do seu partido e do PT na sede nacional do PMDB, no Congresso Nacional. O objetivo foi reafirmar o cumprimento do acordo de rodízio na presidência da Câmara. O trato, assinado em novembro de 2010 por Temer e o então presidente do PT, José Eduardo Dutra, conduziu Marco Maia (PT-RS) à presidência em fevereiro de 2011. Mas seu cumprimento vinha sendo posto em dúvida por setores petistas, especialmente aqueles ligados ao líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Por essa razão, o presidente do PT, Rui Falcão, abriu o evento dizendo que o acordo será cumprido. "Nesse meio tempo (em que o acordo foi assinado e ontem) houve muita especulação e diz-que-diz. Então, entendemos que era importante reafirmar esse compromisso. O PT tem palavra. Acordo político é para cumprir. Nosso compromisso é que nosso voto vá todo para o candidato do PMDB. Esse é um fato político importante porque desfaz qualquer especulação corrente", disse Falcão.

Temer foi na mesma linha: "Quando se tem um acordo, você cumpre. E como havia uma ou outra palavra que ensejava alguma dúvida, o Rui me procurou para confirmarmos o que estava escrito". Assinalou ainda que a "grande simbologia" do ato é a de que ele é "uma nova declaração de integração do PMDB e do PT, de um projeto que deu certo e está dando certo".

Principal beneficiado do cumprimento do acordo, Henrique Alves disse que a frase "acordo é para se cumprir" é a que mais soa bem a ele. "O que vale na política é palavra. É o compromisso feito que traduz a honra e o caráter." Ele ressaltou que o ato é "apenas o começo de uma longa caminhada" e que ele quer, sim, apoio de todos os partidos para sua eleição. "Se puder buscar consenso será melhor, para tornar mais forte, mais legítimo e mais transparente a interlocução tanto para dentro como para fora da Câmara." Disse ainda que todos os parlamentares serão procurados. "A nossa ótica é o Parlamento, a instituição. Tem que ser um candidato da Casa."

Alves já tem em mente as principais conversas que deve fazer para conseguir ser eleito por aclamação: as bancadas que também articulam candidatos. Com 78 deputados juntos, PSB e PSD estavam em estágio avançado sobre o tema mas a interferência da presidente Dilma Rousseff, ao obrigar o PT a cumprir o acordo com o PMDB, enfraqueceu seus ânimos. O "independente" PR, cada vez mais fora do governo vislumbra uma candidatura com Inocêncio Oliveira (PE), mas a bancada foi reduzida com a criação do PSD e sozinha não deve conseguir avançar muito.

É certo, porém, que a forma como o Palácio do Planalto se relacionar com a Câmara bem como o resultado das eleições municipais de outubro será determinante no cenário da sucessão na Casa. O motivo é que o sentimento comum dos deputados - até mesmo do PT - é que não se sentem representados, tampouco ouvidos no governo. Desse modo, a candidatura de Alves, agora oficialmente patrocinada pelo governo, pode enfrentar problemas justamente pela rejeição dos parlamentares à forma como são tratados pelo governo.