Título: Encargos abocanham 75% do preço do barril na bolsa
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 26/02/2007, Empresas, p. B6

A parcela dos impostos governamentais na composição do preço do barril de petróleo está perto do limite. Atualmente, estima-se que entre 70% e 75% do valor de um barril da commodity seja formado por taxas, tributos e encargos, principalmente de prospecção. E os 25% ou 30% restantes teriam como destino os cofres das empresas do setor.

Para Saul Suslick, diretor do Centro de Estudos de Petróleo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a fatia governamental está no teto. Tanto que ele acredita que a composição de custos somente sofreria alguma redução caso os governos resolvessem dar incentivos fiscais para fins de desenvolvimento tecnológico.

Mas há uma boa possibilidade de queda de participação dos custos no preço do barril, já que existem aspectos ambientais, tipos diferentes de matriz energética e inovação tecnológica que podem mudar esse jogo. David Zylbersztajn, que já foi diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e hoje comanda a consultoria DZ, explica que realmente os custos de extração ficaram mais caros nos últimos anos, como o aluguel de sondas, por exemplo. No entanto, diz que a questão não é mais só preço, há novos aspectos em discussão, como o aquecimento global.

"É difícil prever como ficará a relação entre oferta e demanda no futuro. Mas penso que poderá haver sobra de sondas em breve, por exemplo, o que mudaria essa conjugação de custos e lucratividade", diz Zylbersztajn.

Essa relação média entre 70%/75% de custos e 25%/30% de lucratividade se refere ao petróleo extraído por nações não-pertencentes à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), entidade responsável por 40% do consumo global de óleo. É o caso de México, Noruega, Rússia, Angola, Brasil, Estados Unidos e alguns outros. Não há dados disponíveis da Opep.

O sócio-diretor da Accenture para a área de recursos naturais, Alexandre Oliveira, também rubrica esta relação. E explica que os 30% de lucratividade atribuídos às companhias não deve ser entendido como lucro líquido e sim como receita. "Há nessa parte o ganho das empresas, mas nisso também está embutido os recursos usados nos investimentos em pesquisa, tecnologia, no desenvolvimento de novas fontes de energia e na manutenção do negócio", afirma o consultor.

É muito difícil dimensionar a parcela de cada área no custo do barril de petróleo. Mas o executivo da Accenture assegura que pelo menos metade desses 70% de gastos está relacionada a tudo que estiver embutido na atividade de prospecção do poço. Em outras palavras, são gastos com a contratação de empresas de perfurações, aluguel de sondas e outros. Já a outra metade estaria ligada às atividades de desenvolvimento do campo de extração, como a construção de plataformas, acordos com companhias de serviços e atividades gerais de infra-estrutura.

O analista de Investimentos da Geração Futuro Corretora, Lucas Brendler, lembra que essa relação entre custos e lucratividade muda um pouco no caso dos barris do tipo WTI e Brent. Mas diz ser muito difícil calcular as alterações. (MC)