Título: Juros refletem sinal de alerta com o PIB
Autor: Oliveira, João José
Fonte: Valor Econômico, 13/08/2012, Finanças, p. C2

Os agentes de mercado estão cada vez mais atentos à dobradinha formada por crescimento anêmico e inflação anabolizada. Um reflexo desse desconforto está no mercado de juros, na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), onde as taxas projetadas nos contratos com vencimentos mais longos atingiram a maior diferença em relação aos contratos de vencimentos mais curtos em um mês.

Os últimos indicadores divulgados no Brasil reforçaram a incerteza com relação à eficiência dos instrumentos ainda disponíveis para o governo estimular a economia. O último dado, apresentado sexta-feira, trouxe queda de 0,2% do emprego industrial. Fontes de instituições financeiras apontam que já existem economistas colocando em dúvida as estimativas de crescimento do PIB, atualmente entre 1,5% e 2%. "Já tem gente falando em alta mais perto de 1% do que de 1,5%", disse um profissional.

Quanto mais fraca a atividade, maior a aposta em cortes de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Para este mês, os agentes projetam redução de 0,5 ponto percentual, para 7,5% ao ano. Para as próximas reuniões, em outubro e novembro, o consenso perde força: há estimativas de novo ajuste de 0,5 ponto, apostas em 0,25 ponto e até estabilidade.

Por isso, as projeções de juros na BM&F que têm vencimento mais curto, até janeiro de 2014, têm resistido a altas mais fortes. Mas as projeções para prazos mais longos, caso do vencimento de janeiro de 2017, sobem. O maior receio dos investidores é de que o governo exagere na dose dos estímulos - corte de juros ou desonerações fiscais -, semeando terreno para um repique da inflação quando a atividade voltar.

O analista econômico do Itaú Unibanco Mauricio Oreng alerta para a queda do superávit primário brasileiro nessa corrida de estímulos. O banco reduziu a projeção de superávit primário este ano de 2,9% para 2,8% e, para 2013, de 2,8% para 2,6%. Ele avalia que em 2013 o superávit estrutural - que exclui os ciclos econômicos e as receitas extraordinárias - vai recuar dos atuais 2% para 1,3% do PIB. "É uma postura fiscal expansionista que permite um superávit estrutural mais baixo se a gente der certo."

É esse quadro de incertezas que explica em parte porque na sexta-feira, a diferença entre o DI de janeiro de 2017 e o de janeiro de 2014 subiu para 1,46 ponto percentual - a maior diferença desde 10 de julho.

No câmbio, os volumes negociados seguem modestos, mas a moeda carrega viés de baixa, pois cedeu 0,74% na semana passada e acumula queda de 1,76% no mês. Ainda assim, o dólar respeita o "piso" da banda informal de R$ 2 a R$ 2,10. Na sexta-feira, perdeu 0,10%, para R$ 2,014.

Mas existem alguns riscos a essa banda, que poderia mudar para R$ 1,95 a R$ 2 no curto prazo, segundo o economista e professor da PUC-RJ, André Klotzle. Entre eles, está o forte aumento no preço das commodities agrícolas. Caso esse choque de oferta se mostre mais persistente, contaminando a inflação ao consumidor, o câmbio pode ser chamado a ajudar. "Como os juros não vão subir, então o único meio de conter uma possível escalada inflacionária seria via câmbio", diz.

Outro fator é a possível atuação dos principais bancos centrais do mundo para estimular as economias. Se esse for o caso, diz o professor, o efeito nas commodities seria imediato, reforçando o atual viés de alta já existente, principalmente nos alimentos.

"Nesse caso, a equipe econômica também "aceitaria" um dólar um pouco mais baixo, e a oscilação penderia para algo mais próximo a R$ 1,90", conclui.