Título: Sharp ensaia volta ao Brasil, mas ainda carrega pendências
Autor: Claudia Facchini e João Luiz Rosa
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2004, Empresas, p. B1

Depois da trajetória acidentada que a marca Sharp percorreu no país - e que desembocou na falência da Sharp do Brasil, controlada pela família Machline -, a Sharp japonesa, que detinha 12% de participação no negócio, decidiu voltar ao mercado brasileiro. O retorno interrompe uma ausência de pelo menos quatro anos, durante os quais os produtos Sharp chegavam aqui por importações diretas de mais de uma dúzia de distribuidores, mas não significa o fim das atribulações da marca no país. Para voltar ao jogo, o grupo japonês definiu dois distribuidores, um para o segmento de escritórios e outro para o de eletrônicos de consumo. No primeiro caso, a empresa escolhida é a Plena, que foi criada este ano e vai vender, principalmente, multifuncionais. São equipamentos que combinam funções de impressora, fax, copiadora etc., dirigidos a empresas. No segmento de consumo, cujo principal produto são as TVs de cristal líquido, a nova parceira é a Opeco. Sob o arranjo, só essas empresas podem fazer a importação oficial dos aparelhos da Sharp. As demais companhias que negociavam os equipamentos no país estão sendo notificadas da mudança. "Algumas dessas empresas estão entrando em nossa rede, no papel de revendas", diz Rubens Morante Barcellos, executivo responsável pela dia-a-dia da Plena. Pelos contratos, as duas empresas não têm, porém, direitos sobre a marca, uma diferença em relação ao acordo que a multinacional mantinha com a família Machline, o que teria ajudado a ocasionar as atuais pendências jurídicas. "A Sharp ganhou o direito de usar a sua própria marca em todas as instâncias jurídicas, permitindo assim retomar as atividades no Brasil", disse, por e-mail, Edward Fuller, vice-presidente sênior e gerente da Sharp para América Latina e México. É esta divisão, com sede em Miami, que vai supervisionar as operações no Brasil. A multinacional não tem, porém, participação em nenhuma das duas distribuidoras nomeadas. A Plena, que já montou um showroom em São Paulo e estabeleceu contatos para montar sua rede de revendas, pertence à holding Ranger, criada recentemente e controlada por dois investidores brasileiros, que preferem não se identificar, alegando questões de segurança. Barcellos, que dirige a Plena - em regime de prestação de serviços, segundo ele mesmo -, já tinha experiência com os produtos da Sharp. Ele é o procurador da SB Comercial, que comprava multifuncionais de importadoras brasileiras e revendia os produtos no país. Controlada por duas companhias estrangeiras, com sede em paraísos fiscais, a SB chegou a ser investigada pela CPI da Pirataria, mas a empresa conseguiu provar que vendia legalmente os produtos. Segundo o relatório da CPI, em 14 de abril policiais do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) cumpriram mandado de busca e apreensão de equipamentos supostamente contrabandeados e lacraram a sede da companhia, em São Paulo, para investigação. Segundo o relatório, o local foi liberado depois que foram apresentadas as notas fiscais que comprovavam a origem legal dos aparelhos. No documento, consta também que ficou comprovada "de maneira inequívoca" a relação comercial existente entre a SB e a Sharp Corporation. "A Sharp acompanhou o processo e apoiou a SB", diz Victor Tiferes, que trabalha para a multinacional e responde a Miami. No site da SB, encontra-se um telefone que remete para outro número, da Plena. A explicação de Barcellos é que isso foi feito para facilitar o acesso dos clientes aos produtos, já que com o novo acordo nem a SB nem outras empresas podem vender os multifuncionais. O executivo negou, porém, qualquer ligação societária existente entre a SB Comercial e a Plena.