Título: Fome espalha desespero na cidade rebelde de Aleppo
Autor: Spindle , Bill
Fonte: Valor Econômico, 14/08/2012, Especial, p. A14

Os sírios que ainda não conseguiram fugir da guerra na cidade rebelde de Aleppo estão enfrentando um outro problema que aumenta a cada dia: a fome.

Enquanto os preços dos poucos suprimentos disponíveis disparam, há crescentes sinais de desespero entre pais procurando alimentar seus filhos em uma cidade onde não há sinais um fim próximo para a guerra entre as forças leais ao presidente Bashar al Assad e os rebeldes.

Até mesmo os médicos que prestam assistência aos feridos são alvo dos pedidos desesperados da população. "Uma mulher entrou, e nós pensamos que ela precisava de tratamento médico. Mas, em vez disso, ela nos pediu comida", disse um médico em um hospital de campanha. "Ela disse que sua família não comia havia dias e que não tinha dinheiro para comprar nada."

A escassez de combustível e comida, combinada com a disparada de preços, está agravando a situação dos sírios em uma cidade sob constantes bombardeios e onde as ruas estão tomadas por escombros e corpos. Com os postos de gasolina fechados, o combustível é vendido em garrafas plásticas.

"Eu não estou preocupado sobre se haverá uma crise humanitária. Isso já começou", disse um membro do grupo opositor Conselho Nacional Sírio, em visita à cidade. "Há uma verdadeira crise humanitária em Aleppo."

Em um incidente que ilustra o desespero na cidade, um outro médico descreveu como um homem, com um tiro no pé, estava mais preocupado com o destino de suas compras do que com o ferimento. "Ele começou a chorar: "Minha comida! Minha comida! Alguém roubou meus tomates.""

Lojas tocadas pelo governo, que vendiam artigos subsidiados, fecharam as portas com o desaparecimento da autoridade estatal. Os preços do açúcar, do arroz e do óleo triplicaram.

Com a economia estagnada na cidade de 4 milhões de habitantes, antes o maior centro comercial do país, a queda na renda está acrescentando ainda mais sofrimento. E os comerciantes estão racionando até mesmo artigos como fraldas infantis.

Ontem, chanceleres dos Estados-membros da Organização da Cooperação Islâmica decidiram suspender a Síria da entidade, que congrega 56 países, além da Autoridade Palestina, aumentando o isolamento de Assad. A medida tem efeitos mais práticos do que simbólicos sobre o regime de Assad, que continua a ter o apoio do governo iraniano.