Título: De olho nos EUA, Brasil assina acordo com a Jamaica
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2007, Agronegócios, p. B16

Os governos do Brasil e da Jamaica assinaram um memorando de entendimentos para promover a transferência de tecnologia brasileira para a produção de açúcar e, sobretudo álcool, para aquele país. Segundo fontes do Itamaraty, este é um primeiro passo para que o Brasil avance em acordos parecidos em outros países do Caribe.

"A opção pelo Caribe é óbvia", disse ao Valor uma fonte do governo, referindo-se às vantagens de se exportar álcool do Brasil a partir do Caribe, uma vez que a região é isenta da tarifa de importação americana, de US$ 0,54 centavos por galão (3,785 litros), além de 2,5% de taxa ad valorem. Por meio do tratado (Caribbean Basin Initiative), o álcool da região do Caribe entra nos EUA com isenção de impostos. Os produtores do Caribe podem exportar até 7% da demanda americana por álcool.

Representantes do governo jamaicano estiveram em Brasília, no dia 15 de fevereiro, e reuniram-se também com o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau. A expectativa é de que o governo brasileiro envie técnicos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para Jamaica para analisar quais são as variedades de cana-de-açúcar do Brasil compatíveis com os canaviais daquele país.

A produção de cana-de-açúcar na Jamaica é pequena, estimada em 2,4 milhões de toneladas. O país conta com nove usinas, todas controladas pelo governo.

A trading brasileira Coimex possui uma destilaria de desidratação de álcool naquele país em operação desde 2005, com capacidade para processar 150 milhões de litros por ano. Em recente entrevista ao Valor, o presidente da trading, Clayton Hygino Miranda, informou que está participando de uma licitação para adquirir três usinas de açúcar. As negociações estão em andamento.

De acordo com fontes do governo, outros grupos brasileiros podem fazer investimentos na Jamaica e em outros países do Caribe. Em El Salvador, a Cargill e Crystalsev são sócias de uma destilaria de desidratação de álcool.

Com a maior demanda pelo álcool no mercado internacional, o Itamaraty decidiu criar um Departamento de Energia, que inclui combustíveis renováveis e não-renováveis. O Itamaraty deve divulgar nos próximos os planos do governo para o mercado de álcool por conta da visita do presidente americano George W. Bush ao país no início de março.

O governo nega que a cooperação entre o Brasil e os países do Caribe esteja vinculado à Comissão Interamericana do Etanol, criada pela iniciativa privada do Brasil e Estados Unidos, com objetivo de promover um mercado comum de álcool para as Américas. Segundo fontes do Itamaraty, os investimentos privados naquela região ocorrem sem a intervenção do governo.