Título: Brics iniciam debate sobre criação de um banco de desenvolvimento
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 14/08/2012, Finanças, p. C12

A primeira reunião para a criação do banco de desenvolvimento dos Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - ocorrerá hoje no Rio de Janeiro, trazendo na agenda a proposta de capital inicial da instituição.

A Índia sugere que o banco comece a funcionar com capital em torno de US$ 50 bilhões. O Brasil, por sua vez, defende que a participação no capital seja dividida em partes iguais entre os cinco membros do grupo. Assim, não haveria peso maior da China, que tem mais de US$ 3,2 trilhões em reservas internacionais e portanto mais poder de fogo financeiro do que os outros juntos.

A partir do encontro do Rio, os membros dos Brics vão negociar a composição do capital, governança, localização e liderança da nova instituição.

O banco precisará ser criado em bases que o levem a obter bom rating de crédito, para assegurar acesso a financiamento barato. Para Robert Zoellick, ex-presidente do Banco Mundial, esse será um dos principais desafios da futura instituição dos emergentes.

Pela orientação dos líderes dos Brics, o objetivo é que as bases do banco estejam definidas quando se reunirem de novo, em março do ano que vem na África do Sul.

A Índia se inspira muito em argumentos do Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz no debate sobre o banco. Stiglitz escreveu que o dinheiro está nos emergentes e, para romper o círculo das desigualdades, é preciso colocar fim ao fluxo de capital dos pobres para os ricos.

Para o economista, as economias dos Brics são maiores do que as dos países industrializados que formaram o Banco Mundial em 1944. Assim, o grupo deve se unir na formação de uma instituição financeira global, porque os mercados e a globalização não estão funcionando do jeito que os emergentes gostariam.

Negociadores em Nova Déli têm reiterado que o Banco Mundial demorou cinco anos para ser criado e o Banco Asiático de Desenvolvimento, outros três, de forma que o banco dos Brics não vai surgir da noite para o dia.

Por outro lado, o presidente sul-africano, Jacob Zuma, não esconde o interesse em acelerar a criação do banco, já que vê oportunidade de obter créditos para obras em estradas, represas e portos, que poderão ter participação dos outros membros do grupo.