Título: Cardápio diversificado
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2007, Eu & Investimentos, p. D1

Com uma carteira bem diversificada entre fundos de renda fixa e de ações, mas concentrada num único banco, o engenheiro de computadores Glauco Marolla sempre pensou em aplicar em uma outra instituição. A idéia de ter de abrir conta numa gestora e de lidar com toda a documentação necessária acabaram, no entanto, postergando essa decisão. Agora essa possibilidade começa a ganhar mais força, já que o banco onde aplica passou a oferecer também fundos de terceiros. "Isso me dá acesso a instituições onde somente com muito dinheiro eu poderia aplicar, sem falar na comodidade", diz o engenheiro.

Um benefício antes restrito aos investidores mais abonados dos private banks, a possibilidade de investir em fundos de terceiros, chega aos poucos também para o cliente de varejo de alta renda dos grandes bancos. A chamada "arquitetura aberta" - em que a instituição oferece fundos de outras gestoras - ainda é incipiente no Brasil, mas já começa a se tornar realidade para alguns investidores, normalmente aqueles com renda superior a R$ 3 mil. A maior parte dos bancos, no entanto, prefere oferecer a alternativa indiretamente, via fundos de fundos. As duas estratégias têm a intenção de dar ao cliente a opção de aplicar em carteiras mais sofisticadas sem ter de procurar outra instituição, o que torna o cliente mais fiel.

O pioneiro na arquitetura aberta para o varejo de alta renda é o Citibank. O banco já oferece fundos de quatro gestores não ligados a grandes bancos comerciais: Legg Mason (para quem o Citi vendeu suas operações de gestão de recursos em 2005), UBS Pactual, Schroder e BNP Paribas. "A idéia é complementar a grade de fundos oferecendo carteiras com diferentes estilos de gestão", diz Elizabeth Gomes, superintendente de produtos de investimento do Citibank. "Queremos ser um supermercado de fundos para atender o cliente de forma que ele não precise procurar em outras instituições esses produtos", afirma.

Para selecionar quais fundos farão parte do portfólio do Citi, além de atender aos rigorosos critérios do banco, é preciso que o fundo tenha um histórico de 12 meses e a instituição seja capaz de absorver um grande volume de recursos. "As instituições menores normalmente fecham o fundo para captação quando ele atinge R$ 40 ou R$ 50 milhões, o que para nós é ruim", diz Elizabeth, explicando que não pode colocar uma carteira na rede e logo depois fechá-la para captação. Ela conta que estuda oferecer fundos de gestores independentes menores, mas apenas para os clientes private do banco.

Apesar de a arquitetura aberta avançar, ainda que lentamente, a maior parte dos grandes bancos prefere oferecer fundos de fundos para os clientes de varejo de alta renda. É o caso do ABN Amro Real, que conta com duas famílias de fundos multigestores. O primeiro, lançado em 2004, é o Multiportfólio. Um ano depois veio a família do Real Investimento Personalizado Van Gogh, com as carteiras conservadora, moderada e balanceada. "O cliente, mesmo o de alta renda, está acostumado a aplicar no banco, confia na instituição, por isso, não notamos ainda demanda por aplicação direta em fundos de terceiros como no private", diz Eduardo Jurcevic, superintendente de investimentos do ABN. O sistema de arquitetura aberta para o varejo de alta renda ainda não está nos planos do banco. "Os investidores brasileiros ainda procuram muito mais a solidez da instituição, verificam as taxas de administração e buscam assessoria de investimento muito mais que o desejo de diversificação", justifica Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais do ABN.

Com a queda da taxa de juros, os clientes estão cada vez mais em busca de diversificação e os fundos de fundos aparecem como alternativa, avalia Rosaline Nunes, diretora do segmento Premier do HSBC. A instituição conta com dois multigestores, os multimercados Aquamarine 25 e o HSBC Multi Aquamarine Equities (este últimos especializado em ações). "A arquitetura aberta é uma tendência no mercado brasileiro", diz a executiva. Ela lembra que, ao concentrar os investimentos num único lugar, o aplicador torna-se mais fiel ao banco e o cliente de varejo de alta renda é o private de amanhã.

Já a Caixa Econômica Federal (CEF) tornou recentemente seu fundos de fundos disponível para todos os tipos de clientes. Lançado em 2006 com aplicação mínima de R$ 30 mil, o Caixa Estratégico Multimercado passou a ter um fundo espelho que aceita investimento a partir de R$ 1 mil. Segundo Marcelo Bonini, diretor de ativos de terceiros da CEF, o multimercado aplica em fundos de quatro gestores: SulAmérica, BNP Paribas, Votorantim Asset e UBS Pactual.

Em janeiro do ano passado, o Banco Nossa Caixa abriu para captação o seu primeiro fundo multimercados. O Nossa Caixa Mix Multimercados segue o modelo de multigestão, com a aquisição de cotas de outros gestores.

No Banco do Brasil, a oferta de fundos de fundos para os clientes do segmento Estilo está sendo avaliada e pode ser implementada no início do segundo semestre, diz Osvaldo de Salles, gerente executivo da unidade alta Renda do BB. "Normalmente, o cliente com R$ 100 mil para aplicar precisa ter liquidez, portanto, é necessário ver até onde é interessante para esse investidor ter estratégias diferenciadas que em geral têm riscos mais elevados", alerta.

No Bradesco não há fundos de terceiros fora do private bank. A aposta ainda está nas carteiras geridas na própria Bradesco Asset Management. "Temos de ter fundos capazes de suportar patrimônios altos, acima de R$ 300 milhões, por causa da vasta rede de agências, o que não acontece com as carteiras de gestores menores", diz Marcos Villanova, superintendente executivo do Departamento de Investimentos.

Nos EUA, o sistema de arquitetura aberta já é usado há tempos e os maiores gestores são independentes. Na Europa, os clientes também têm acesso a carteiras de outros gestores, mas as assets ligadas a bancos ainda são maiores que as independentes. Isso se deve ao fato de que, nos EUA, foi proibido por décadas que bancos comerciais atuassem também nas áreas de gestão, seguro ou corretora. No Brasil, as restrições eram menores e diminuíram mais com a criação dos bancos múltiplos nos anos 80.