Título: Vale faz aquisição estratégica na Austrália
Autor: Durão, Vera
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2007, Empresas, p. B8

A Vale do Rio Doce tem planos de ser uma das cinco maiores produtoras de carvão do mundo até 2010, quando deverá alcançar uma produção de 30 milhões de toneladas. Com isso, passará a fazer parte do time das gigantes desse mercado, composto pela BHP Billiton, Anglo American e Xstrata. O passo inicial desta trajetória se deu ontem, com o anúncio da aquisição de 100% da AMCI Holdings Australia, por 835 milhões de dólares australianos (US$ 660 milhões) mais dívidas de 157 milhões de dólares (cerca de US$ 100 milhões), pago à vista com recursos do caixa da mineradora. A operação estará concluída em 40 dias, prazo necessário para sua aprovação pelo governo australiano.

Esta é a primeira aquisição da Vale no setor de carvão, negócio considerado estratégico dada sua sinergia com o minério de ferro no contexto de atendimento às usinas de aço, afirmou Guilherme Stoliar, diretor -executivo de planejamento e gestão da Vale. A compra de ativos de carvão da AMCI, negociada por Pedro Rodrigues, diretor de desenvolvimento de novos negócios da Vale, fechada no final da semana, vai ampliar em mais 8 milhões de toneladas ao ano de carvão os ativos da Vale nesta área.

Nas contas de Stoliar, até agora a Vale tem 2 milhões de toneladas de carvão por conta de joint ventures com empresas chinesas. A partir de 2009, os quatro ativos em início de operação da AMCI estarão produzindo 12 milhões de toneladas de carvão, dos quais 8 milhões serão da Vale. Este volume, somado aos 12 milhões do projeto de carvão de Moatize, em Moçambique, por volta de 2010/2011 e mais 8,5 milhões de toneladas do projeto de exploração de Belvedere (também na Austrália), vai permitir à companhia brasileira se destacar no mercado global do produto.

Segundo Rodrigues, a Vale adquiriu da AMCI, detentora e operadora de minas de carvão e de direitos de exploração na Austrália, através de participações em consórcios, quatro ativos em início de operação e outros 30 em fase de exploração, que vão permitir à Vale fazer pesquisa mineral numa área da ordem de 7 mil quilômetros contíguos aos ativos atuais. Esta área de pesquisa tem um potencial de reserva da ordem de 3 bilhões de toneladas.

A Integra Coal, na qual a Vale detém agora 61% e tem como sócio uma empresa japonesa, é um dos quatro ativos. O outro é a Carborough Downs, com 80% do capital e divide sociedade com quatro sócios pessoa física (cada um com 5%), também sócios na Integra Coal. Na Isaac Plains, a Vale divide sociedade com a Aquila e a Broadlea, mas detém direito a 100% da produção. Estes ativos são localizados nas duas melhores regiões produtoras de carvão da Austrália - o Hunter Valley, no Estado de New South Wales e Bowen Basin, no estado de Queensland.

José Lancaster, diretor executivo de não ferrosos da Vale, disse que a aquisição da AMCI insere a Vale no negócio de carvão, pois cria uma plataforma competitiva para a companhia, permitindo acesso a um portfólio de projetos já implantados, na fase de início de operação, num dos lugares onde se produz um dos melhores carvões do mundo. Segundo ele, o carvão produzido nestas regiões tem 80% de carvão metalúrgico e 20% de térmico.

Os principais clientes do carvão da AMCI serão do mercado asiático. Os ativos em início de operação já contam com 80% do carvão vendido em contratos de longo prazo principalmente para Japão e Índia e um pouco para a China. Os restantes 20% a Vale vai colocar no mercado 'spot'. O produto não virá inicialmente para o Brasil, por dificuldades de logística. "O Brasil continua comprando carvão do Canadá e dos EUA e alguma coisa da Austrália", contou Stoliar.

Para analistas ouvidos pelo Valor, a Vale fez um bom negócio, apesar dos preços do carvão terem baixado. Para Pedro Galdi, do ABN Amro, o valor do negócio é pequeno e não vai impactar seu grau de investimento. A dívida total da Vale deve encerrar 2006 na casa dos R$ 50,8 bilhões (R$ 48 bilhões de longo prazo) por conta da compra da Inco, segundo projeções de Galdi. Rodrigo Ferraz, da Brascan Corretora, aponta o esforço da Vale para estar entre os maiores players de carvão. Porém, alerta que pode estar entrando num nicho sensível a impactos de questões ambientais.