Título: Novos caminhos
Autor: Zaparolli, Domingos
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2007, Especial, p. F1

Os dados sobre inovação no Brasil são desalentadores. Em 2005, entre recursos públicos e privados, o país investiu 1,28% de seu PIB em inovação. A Coréia do Sul, no mesmo ano, investiu 2,5%. Entre 2001 e 2003, período da última pesquisa do IBGE sobre o assunto, a taxa de inovação entre as empresas brasileiras foi de 33,3%. Mas entre as pequenas empresas, com 10 a 49 pessoas ocupadas, esta taxa foi ainda menor, de 31,1%.

O conceito de inovação adotado pelo instituto abrange qualquer ação que seja nova no âmbito da empresa, como a incorporação de um equipamento, o lançamento de um produto ou a adoção de um processo já conhecido no mercado.

Quando se observa o universo das pequenas empresas que realizaram ações consideradas inovadoras para o mercado nacional, os resultados são bem mais tímidos. Apenas 2,1% lançaram produtos e 0,7% adotaram processos inéditos no país. Não há dados sobre empresas com menos de 10 funcionários, mas analistas acreditam que, entre elas, a inovação seja ainda menos corrente.

A Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em seu relatório de 2005 sobre empreendedorismo no Brasil, observa que entre as novas empresas abertas no país, 2,6% declaram adotar tecnologias ou processos novos, estabelecidos há menos de um ano. Em outros países de renda média pesquisados pelo instituto, esta taxa é de 30%.

"Não há uma cultura de inovação entre os empreendedores brasileiros. O problema é que, sem um diferencial no mercado, só resta às empresas a estratégia de competir pela oferta do menor preço, o que reduz, em muito, as chances de sucesso do negócio", diz Paulo Veras, diretor geral do Instituto Empreender Endeavor.

Simone Guimarães Cornelsen, gerente de projetos da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), aponta três fatores principais para a baixa inovação entre as pequenas empresas nacionais. O primeiro é um ambiente hostil à inovação no país, com falta de crédito oficial e um descompasso entre universidades e empresas. Os dois outros fatores são mais diretamente relacionados ao perfil dos pequenos empresários. Eles desconhecem as tendências dos mercados em que atuam e apresentam uma capacitação gerencial falha.

A boa notícia é que entidades como a Anpei, Endeavor, Finep e o Sebrae, nos últimos anos, passaram a se empenhar em desenvolver a cultura empreendedora entre os pequenos empresários do país. Além disso, a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, sancionada no final de 2006, tem potencial de incrementar os recursos destinados à inovação entre as pequenas empresas brasileiras.

O artigo 65 da Lei Geral estabelece que os fundos federais, estaduais e municipais destinados à inovação terão como meta investir 20% de seus recursos no aprimoramento de micro e pequenas empresas. O artigo ainda não foi regulamentado e ainda não há um mapeamento de como se dará este investimento.

"O que existe hoje é uma expectativa de incremento nos investimentos destinados aos pequenos negócios. A sociedade deve ficar vigilante e exigir que estes recursos sejam realmente aplicados", afirma Veras.

O resultado poderá ser positivo se os diferentes órgãos públicos seguirem o exemplo da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, que criou há dois anos uma superintendência voltada às pequenas empresas, ocupada por Eduardo Costa. O executivo informa que atualmente 20% da carteira de investimentos da empresa, estimada em R$ 2 bilhões, já é destinada ao financiamento de pequenas empresas.

No último ano, a Finep instituiu três formas de apoio ao pequeno empresário inovador. Um é o programa Juro Zero, que disponibiliza financiamentos de até R$ 900 mil sem juros e pagamento parcelado em 100 vezes. O programa, com R$ 100 milhões em caixa, atende empreendedores de cinco cidades: Belo Horizonte, Recife, Salvador, Florianópolis e Curitiba. A meta, informa Costa, é chegar a 75 localidades atendidas em 2008.

Outro programa é a subvenção, ou seja, o "dinheiro grátis", como define Costa. O programa, cujo edital foi lançado no final de 2006, conta com R$ 300 milhões para investir em 150 projetos considerados inovadores e de alto risco tecnológico. Um total de 1,1 mil propostas foram apresentadas.

A terceira forma de apoio é por meio de venture capital, com o incentivo para formação de fundos de investimentos mistos, público e privado. Segundo Costa, a Finep já apóia 10 fundos com este perfil, que somam em suas carteiras R$ 300 milhões em investimentos. Deste total, a Finep entrou com R$ 100 milhões. Cada fundo, por sua vez, investe em oito a uma dúzia de empresas.

A Finep, informa Costa, optou por atender a necessidade de um universo restrito, de aproximadamente 50 mil pequenas empresas, 1% do total, capazes de produzir ações realmente inovadoras em âmbito nacional.

Já instituições como o Sebrae e a Anpei concentram seus esforços principalmente na difusão entre as pequenas empresas da inovação incremental, ou seja, estimulam os micro e pequenos empresários a absorverem tecnologias já disponíveis e, assim, ganhar competitividade. "É um trabalho de formação cultural, queremos levar o pequeno empresário a se atualizar e sentir a necessidade de inovar", diz Marcelo Dini, gerente da unidade de Inovação e Acesso à Tecnologia do Sebrae-SP.

Em 2003, a Anpei e o Sebrae fecharam uma parceria com o objetivo de difundir a inovação incremental por meio de capacitação de empreendedores e visitas técnicas de consultoria às empresas.

O programa atende necessidades básicas como a análise e a remodelação do layout da empresa, o fluxo e o controle da produção, a padronização de rotinas operacionais, o controle de custos e ações de marketing.

Fábio Nieli, proprietário da serralheria Solda Sol, de Araraquara (SP), participou do programa em 2006. Durante 30 anos, a Solda Sol realizou serviços de serralheria em geral, tendo como estratégia a oferta do menor preço, mesmo que, às vezes, sacrificando a qualidade, como reconhece Nieli. As mudanças começaram com o curso do Sebrae. O primeiro passo foi a reorganização da linha de produção, eliminando gargalos. O segundo foi a distribuição de tarefas específicas para cada um dos seus dez funcionários. O terceiro passo foi estabelecer como foco um nicho de mercado: a produção de portões automáticos.