Título: Para Serra, reduzir taxa não basta para atrair empresa
Autor: Bueno , Sérgio Ruck
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2012, Política, p. A8
O candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, rebateu ontem pontos do programa de governo do petista Fernando Haddad em almoço-debate com empresários portugueses. Na crítica mais enfática, afirmou que há "fantasia e elocubração" na ideia de candidatos que querem solucionar os problemas da Zona Leste, região mais carente da capital, com redução de impostos para atrair empresas.
"Na prática, para desenvolver a Zona Leste é preciso principalmente abri-la para a região do ABC, concluir o trecho Leste do Rodoanel e proporcionar melhores condições de acesso e movimentação", pontuou durante o discurso. "A parte tributária é muito modesta, tem pouca influência na atração de investimentos", disse. Logo após o debate, Serra foi de helicóptero a um conjunto habitacional em construção em São Mateus, na Zona Leste, onde prometeu novas moradias sociais.
A redução de Imposto Sobre Serviço (ISS) e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) na periferia é a principal proposta de Haddad para desenvolver a região. "Não estou criticando, não li o plano. O que estou dizendo é que incentivo tributário, por si só, não basta. É preciso ter investimentos públicos e transporte, coisas que fizemos", afirmou Serra.
O tucano também mostrou discordar de Haddad no foco ao transporte por ônibus. O petista promete construir 150 km de corredores de ônibus e outros 150 km de faixas exclusivas. Para Serra, essa não é a solução a médio e longo prazo. "Os corredores de ônibus são importantes, mas suplementares", disse, ao destacar investimentos no metrô e monotrilho feitos em parceria com o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Durante a uma hora e meia de debate, Serra ignorou qualquer ação conjunta com o governo federal.
O candidato do PSDB ainda divergiu sobre a construção do centro de eventos em Pirituba, na Zona Norte, que a prefeitura tenta tornar sede da Expo 2020, maior feira de eventos do mundo. Haddad diz que a candidatura está prejudicada pela falta de uma estação de metrô no local e promete negociar com Alckmin para construí-la até 2020. Já Serra tem visão diferente. "É uma área que já tem acesso, seja por rodovia - a dos Bandeirantes - seja por trem", afirmou.
Apesar das críticas às propostas do petista, o tucano não tem data para apresentar seu próprio programa. Ele disse ontem que os discursos anexados ao registro de candidatura já valem como plano de governo - embora não contenham a maioria das propostas feitas ao longo da campanha nem metas.
Ao fim do debate, um dos empresários questionou Serra sobre que garantia teria de que o tucano ficaria na prefeitura se eleito. Em 2004, Serra candidatou-se à Prefeitura de São Paulo com a promessa de cumprir o mandato. Eleito, renunciou um ano e três meses depois para concorrer ao governo. "Naquele momento foi inevitável [sair] porque o Alckmin não podia ir para a reeleição, e São Paulo cairia em mãos erradas", disse.
O tucano disse que quando assumiu a prefeitura, logo após a gestão Marta Suplicy (PT), a cidade estava "quebrada, com R$ 16 mil em caixa e uma fila de 13 mil credores". "Criou-se uma situação em que, se eu não fosse para o governo do Estado, ia se desencaminhar o processo de reestruturação da cidade", disse, e repetiu o discurso de que a população aceitou sua saída ao elegê-lo para o governo no primeiro turno. Atacou ainda os adversários por usarem o tema na campanha "por não terem o que falar no aspecto moral ou ético".
Para convencer os empresários, Serra fez a avaliação de que a conjuntura de 2006 não se repetirá porque Alckmin tentará a reeleição e disse que a eleição presidencial não está em seu horizonte. "Já fui candidato duas vezes, e prefiro agora me realizar como prefeito da minha cidade, onde nasci, onde cresceram meus filhos e onde vivem meus netos. Quero que essa cidade seja boa para o futuro deles."
Em Brasília para evento do governo federal, Alckmin mostrou confiança no aliado. "Achamos que ele vai para o segundo turno e tem tudo para ganhar as eleições. Mas nós temos o pé no chão", afirmou. O governador analisou ainda a candidatura de Haddad, que continua desconhecido para a maioria da população. "Está faltando voto, né?", ironizou. Para o tucano, embora a propaganda eleitoral na televisão possa ajudar, "ela não é tudo". (Colaborou Daniela Martins, de Brasília)