Título: Pequenas têm maior potencial de demanda por cartões corporativos
Autor: Aguilar, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2007, Especial, p. F2

Micro e pequenas empresas apresentam o maior potencial de demanda de cartão de crédito corporativo, superando as grandes empresas e o segmento de pessoas físicas. Com as boas perspectivas para 2007, bancos e administradoras de cartões de créditos vão à luta para conquistar mais desses clientes.

Segundo a vice-presidente de vendas de produtos corporativos da Mastercard Brasil, Regina Rocha, estudo interno, realizado pela empresa no final de 2006, constatou que a demanda por crédito entre as pequenas empresas é três vezes maior do que entre pessoas físicas. "O cartão empresarial ainda é pouco conhecido", afirma.

Segundo o estudo, a expectativa de faturamento para as micro e pequenas empresas em 2007 é de R$ 30 bilhões. Com uma receita tão expressiva, o cartão corporativo está presente no dia-a-dia de apenas 10% dessas companhias. "A estimativa é bem conservadora e, com a projeção de continuidade da redução da taxa básica de juros, está sob revisão", explica Rocha.

Na pesquisa "MasterCard Global Small Business", feita pelo instituto inglês KRC Research junto a quatro mil pequenos empresários de oito países, em novembro de 2006, foi verificada a tendência de aumento do uso do cartão corporativo entre os pequenos empresários dos Estados Unidos, Reino Unido, França, México, Brasil, Austrália, Hong Kong e China.

A tendência de maior demanda por cartões acompanha o potencial do aumento do número de pequenos negócios nesses países. Na pesquisa, 98% dos brasileiros relacionam a abertura da própria empresa à necessidade de ganhar "dinheiro suficiente para cobrir as despesas". Outro motivo para 96% dos brasileiros consultados é ter o "controle sobre o futuro".

Regina Rocha explica que o cartão ainda é visto como um produto que gera "descontrole dos gastos" pelos pequenos empresários. "Na verdade, é o contrário. Na fatura, todas as despesas da empresa ficam detalhadas. Pode até ser estabelecido um limite de gastos para cada setor da empresa", diz.

Segundo o vice-presidente de produtos da Visa do Brasil, Eduardo Chedid, nos últimos três anos, a rede - que tem cerca 900 mil pequenas empresas atendidas pelo Visa Empresarial - vem se adaptando ao segmento de pequeno negócio.

Depois que levantamentos indicaram os principais estabelecimentos usados para as compras de micro e pequenos empresários, a Visa passou a ter maior presença em empresas de material de escritório, material de construção e em grandes atacadistas, por exemplo.

A empresa também investiu no seu sistema de informação. Os donos de pequenos negócios, hoje, podem contar com relatórios pré-formatados da administradora de cartões que os ajuda na gestão da empresa.

Uma parceria entre a Visa e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), iniciada em julho de 2005, prepara a formatação de uma nova metodologia para a análise de concessão de crédito para pequenos negócios, prevista para ser divulgada neste ano.

Com o apoio dos bancos, um dos objetivos da Visa e do Sebrae-SP é diferenciar as empresas menores que passaram por cursos de gestão, por exemplo, na hora da definição do limite do crédito. Haveria troca de informações entre o Sebrae e as instituições que emitem os cartões.

Hoje, a maior dificuldade é ter de definir rapidamente o limite de crédito para uma empresa em início de atividade, que precisa de capital e, ao mesmo tempo, não tem histórico de relacionamento com a instituição.

Ao lado das campanhas educativas voltadas aos pequenos empresários sobre os benefícios trazidos pelo cartão, os bancos têm lançado os plásticos corporativos acompanhados de serviços específicos para despertar o interesse do proprietário pelo produto.

Mais populares por enquanto são os cartões que acumulam milhas para viagens aéreas de acordo com as compras realizadas. A Visa também oferece, desde de outubro de 2006, o cartão empresarial com seguro. Se o dono da empresa comprou algum equipamento que tenha quebrado no prazo de 90 dias, o cartão permite o ressarcimento do valor da compra.

Em novembro de 2006, o Banco do Brasil (BB) lançou o cartão Gol Negócios, específico para a micro e pequena empresa. O produto promete o retorno de 1,9% do valor das compras em passagens de avião da Gol. Quando o cartão for usado na compra de bilhetes aéreos, o retorno para a compra de novas passagens é de 5%.

Ainda é cedo para saber o alcance do novo produto. Mas, no ano passado, os cartões corporativos no BB cresceram 39% em recursos. Em número de plásticos, subiram 100%. Atualmente, o BB tem 647.394 cartões corporativos com pequenos empresários

O aumento do número de cartões no segmento corporativo da Caixa, especificamente micro e pequenas empresas, foi de 70% em 2006 sobre 2005. A projeção é de que o crescimento atinja o mesmo percentual neste ano. "A maioria dos pequenos empresários ainda desconhece as vantagens do cartão corporativo", afirma o superintendente nacional de administração de cartões da Caixa, Milton Paulo Krüger Junior.

No ano passado, a Caixa começou a emitir cartões para pequenas empresas comprarem produtos de grandes empresas, em vez da negociação via cobrança bancária. Por enquanto, há dois contratos fechados. "Estamos na fase de visitas a mais empresas para fechar novos negócios", afirma Krüger Junior.

O Cartão Empresarial Real, lançado há dois anos, registrou crescimento de 100% em número de plásticos emitidos em 2006. O limite mínimo é de R$ 5 mil e o máximo varia de R$ 200 mil a R$ 300 mil. "Os estudos mostram que há potencial para duplicar novamente o número de cartões corporativos emitidos neste ano", afirma o superintendente executivo da área de cartões do ABN AMRO Real, Mario Mello.

Na avaliação de Mello, o alto percentual de plásticos emitidos resulta da simplificação dos procedimentos no pedido do cartão. "Quem abre a conta jurídica recebe o cartão corporativo. É como receber um talão de cheque após a abertura da conta".

No Bradesco, novos quatro cartões corporativos foram lançados em 2006 em parceria com a Amex. Alguns deles, voltados aos profissionais liberais, oferecendo seguros para bagagem, acidentes, computador e outros materiais de escritório, explica o diretor da área de cartões pessoa jurídica do Bradesco, Luiz Antonio Sacco, que preferiu não divulgar o número de plásticos emitidos pela instituição e nem o volume em recursos movimentados no ano passado.