Título: Empresária diz que há erro em dados na PF
Autor: Sousa , Yvna
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2012, Política, p. A11

A reviravolta foi motivada pelo depoimento dado pela comerciante Roseli Pantoja. De acordo com as investigações da Polícia Federal, ela é sócia de pelo menos cinco empresas de fachada utilizadas pelo esquema de Carlinhos Cachoeira para lavagem de dinheiro. Entre elas, a Alberto & Pantoja, que recebeu cerca de R$ 27 milhões da Delta nos últimos dois anos.

Roseli negou ligação com o grupo de Cachoeira e apontou pelo menos dois erros nos dados em posse da PF: seu CPF não é o mesmo que consta dos documentos e seu nome é grafado Roseli, com "I", e não com "Y".

Ela atribuiu a uma procuração que entregou no ano passado ao ex-marido, o contador Gilmar Carvalho Moraes, a utilização indevida do seu nome. "Inclusive foi esse um dos motivos da separação. Na ocasião em que pegou essa procuração, ele abriu uma conta, pegou empréstimos, deu vários cheques sem fundo e quando eu vi, tinha várias pessoas me procurando", contou.

Além de convencer os parlamentares, o depoimento de Roseli Pantoja também reanimou os que acreditam que uma investigação aprofundada da Delta revelaria um esquema ainda maior de corrupção e desvio de verbas públicas.

"O Cachoeira nessa relação é só um instrumento. Como uma empreiteira que recebe do DNIT [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte] R$ 5 bilhões negocia com empresas fantasmas? Se estivéssemos em um país sério, esse dono da Delta estaria preso", defendeu o senador Pedro Taques (PDT-MT), referindo-se ao ex-presidente da empreiteira, Fernando Cavendish, cujo depoimento à CPI está marcado para o dia 29.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse que já foi identificado o "fluxo operacional da corrupção" operado pela Delta.

"O dinheiro vem de contratos públicos, seja de governo federal, seja de governos estaduais. A empreiteira recebe numa conta pública, notadamente da Caixa Econômica Federal, transfere para suas contas em bancos privados, monta empresas laranjas por Estado ou por região e cada Estado ou região tem um operador do esquema", declarou. Segundo Randolfe, é preciso encontrar os outros "sócios" do esquema.

Nos bastidores, no entanto, parlamentares de oposição e independentes admitem que é difícil que a ampliação da CPI prospere. Isso porque a base governista teme que sejam reveladas ligações da Delta com governos aliados - como o do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que é amigo de Cavendish - e deve atuar para abafar a iniciativa.

O relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG) foi o primeiro a dar um sinal público de que a Comissão não deve ampliar sua atuação. "Eu não sei de onde tiraram que a história do Carlos Cachoeira está resolvida. Ele corrompeu agentes públicos, juízes, promotores, deputados, senadores e continua atuando no Estado de Goiás e é como se isso não existisse. Nós vamos continuar investigando a organização de Carlos Cachoeira", afirmou.