Título: Microempresários vão gastar US$ 3 bi em PCs este ano
Autor: Cezar, Genilson
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2007, Especial, p. F4

A indústria brasileira de computadores, software e equipamentos de telecomunicações intensifica suas estratégias para aproveitar o ambiente mais favorável ao investimento em inovação tecnológica das micro e pequenas empresas. Baixa geral nos preços de servidores, desktops e notebooks, novas estruturas do canal de comercialização e lojas montadas diretamente pelos fabricantes de chips, como a AMD, e de PCs, como a Hewlett-Packard, em redutos do comércio informal, voltado para os micros e pequenos negócios, como a região da rua Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, são algumas das ações da indústria de TI para explorar o novo cenário de oportunidades no chamado SMB (small medium business).

"As últimas mudanças efetivadas pelo governo federal, como a MP do Bem, a Lei Geral das Micros e Pequenas Empresas e o PAC (Programa de Aceleração Econômica) estão criando condições para que os pequenos negócios tenham acesso às tecnologias dos grandes fabricantes, a preços mais baixos, reduzindo a presença do mercado cinza no país", avalia Juan Jimenez, vice-presidente do grupo de computação pessoal da HP, um dos maiores fabricantes mundiais de computadores.

A empresa está investindo em novas linhas de fabricação de PCs e notebooks, de baixo custo, no Brasil, e, em dezembro passado, abriu show room região da Santa Ifigênia, em São Paulo, para se aproximar dos clientes SMB. "O governo está entendendo que para o país avançar em tecnologia é preciso incentivar o investimento na aquisição de equipamentos de informática e de telecomunicações. Só assim as empresas alcançarão maior integração de suas redes e maior produtividade", explica Jimenez.

O entusiasmo dos fabricantes com as compras que deverão ser realizadas pelas micro, pequenas e médias empresas ao longo deste ano é generalizado. Em 2006, a MP do Bem isentou os impostos do PIS (Programa de Integração Social) e o Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) para desktops de até R$ 2,5 mil e laptops de até R$ 3 mil, resultando numa queda dos preços dos equipamentos em cerca de 10%. Isso proporcionou um dos maiores crescimentos da indústria no ano passado.

Segundo dados da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), as vendas de PCs atingiram 8,3 milhões, 46% a mais quando comparadas com as vendas realizadas em 2005. A venda de notebooks aumentou 116%, totalizando 680 mil, enquanto os desktops cresceram suas vendas em 42%, somando 7,6 milhões de unidades em 2006. Agora, com o PAC, que amplia a isenção do PIS e Cofins para computadores até R$ 4 mil, a expectativa é de uma nova baixa de preços, em torno de 9,25%.

Em termos de negócios, as estimativas da indústria para o mercado de PCs, em 2007, são de um crescimento em torno de 20%. Serão faturados quase US$ 15 bilhões (o levantamento exclui a venda de servidores), dos quais US$ 3 bilhões serão desembolsados pelas micros, pequenas e médias empresas.

"A MP do Bem, em 2005, revolucionou o mercado de computadores no Brasil. Agora, os benefícios trazidos pela Lei geral e PAC devem ampliar o acesso das pequenas empresas à tecnologia", comenta Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Informática. Com uma planta industrial com capacidade para produzir 600 mil computadores ao ano, em Curitiba (PR), a Positivo, segundo Rotenberg, cresceu uma enormidade por conta de um cenário econômico mais favorável à venda de computadores no país, a partir de 2005. A receita bruta da empresa, por exemplo, passou de R$ 267,5 milhões em 2004 para R$ 1,3 bilhão em 2006. A venda total de máquinas (desktops e notebooks) subiu de 101.287 unidades em 2004 para 834.690 unidades em 2006.

"Mudou o perfil de compras das micro e pequenas empresas, que começaram a ver possibilidades reais de aquisição de computadores no mercado oficial. Com isso, a participação do mercado cinza, informal, no total das vendas de PCs no Brasil caiu de 73% em 2004 para 47,7% no primeiro semestre de 2006", destaca Rotenberg.

Segundo ele, as grandes cadeias varejistas, como Casas Bahia, Carrefour, entre outras, aumentaram seus limites de crédito para venda de PCs para os pequenos negócios - financiaram em até 30 meses - e reduziram os preços. Assim, equipamentos que custavam R$ 2 mil estão sendo vendidos hoje a menos de R$ 1 mil. "Os preços devem continuar baixando em 2007", indica ele.

Fornecedores de produtos de telecomunicações e de software também procuram criar novas estruturas de comercialização visando fortalecer sua participação entre as empresas de pequeno e médio porte. Tradicional fornecedora de produtos para grandes corporações, a NEC diversificou sua linha de equipamentos e iniciou um trabalho de captação, certificação e treinamento de revendas, com o objetivo de estender sua oferta para o mercado de pequenas e médias empresas.

Em 2006, foram treinadas 25 revendas e até o final deste ano outras 50 também serão capacitadas para trabalhar com o PABX Topaz, um PABX de pequeno porte, que suporta tanto a parte de comunicação tradicional de voz entre PCs, como também faz a integração entre escritórios remotos via VoIP (Voz sobre IP).

Projetos voltados às mpes começam com uma rede de VoIP a partir de R$ 5 mil. "Os pequenos negócios buscam tecnologias para criar um mínimo de infra-estrutura de TI para se integrar com seus fornecedores e clientes", diz Silvio Maemura, diretor da NEC Solutions do Brasil.

A Brasoftware, uma das principais implementadoras dos produtos da Microsoft, igualmente, se preparou para aumentar seu negócios no SMB, especialmente com a oferta de mais serviços de software. "Em 2006 fizemos 25% de nossa receita (R$140 milhões) na área de pequenas empresas e esperamos aumentar esse percentual para 30% do total do faturamento em 2007", diz Eduardo Sukarie, diretor comercial da empresa.