Título: Inovação reduz a dependência em São José dos Campos
Autor: Cezar, Genilson
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2007, Especial, p. F6
Desenvolver e montar centros de competência em atividades diversificadas, como as das indústrias aeronáutica, energética e automobilística: eis o sonho de empresários, governos, universidades e instituições de pesquisa acadêmica que começa a se tornar uma realidade no município paulista de São José dos Campos. Uma região que até agora tem sido extremamente dependente dos negócios da Embraer, a maior fabricante brasileira de aviões comerciais.
O primeiro desses núcleos já está em operação: é o CDTA (Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Aeronáutica), que tem a Embraer como empresa âncora, em parceria com a prefeitura, o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Funciona dentro do Parque Tecnológico de São José dos Campos, uma área de 190 mil metros quadrados, 30 mil metros quadrados dos quais de área construída, que pertenceu à Solectron, adquirida pela administração municipal por R$ 13,5 milhões. Seu objetivo: incentivar o desenvolvimento científico, tecnológico, educacional e industrial do setor aeronáutico.
"A idéia é estimular a criação de outros centros de competência, na área energética e automobilística, por exemplo, para reduzir a dependência em relação às atividades de empresas tradicionais da região, como a Embraer e a General Motors", explica Riugi Kojima, vice-prefeito e secretário de desenvolvimento econômico e da ciência e tecnologia de São José dos Campos.
A prefeitura local trabalha nesse sentido há pelo menos três anos. "Estamos implementando novas leis de incentivos fiscais para atrair, abrigar e fomentar o desenvolvimento de pequenas e médias empresas inovadoras e facilitar sua interação com as instituições públicas e universitárias da região", conta Kojima.
Os primeiros passos foram no sentido de atrair empresas da área de comércio e serviços. Já estão funcionando na cidade novas lojas do Carrefour, dos Supermercados Extra e de empresas atacadistas e de call centers, como a Atento, que está ampliando suas instalações. "No momento, estamos revisando as leis municipais de incentivos fiscais para conquistar também a adesão de empresas industriais", diz o vice-prefeito.
O Arranjo Produtivo Aeroespacial em São José dos Campos, indica ele, é o primeiro a sair do plano virtual para se transformar numa realidade.
Envolve, inicialmente, 12 empresas de um elenco de 40 fornecedores da cadeia produtiva da Embraer, que vão trabalhar em comum para melhorar a produtividade do setor. São pequenos fornecedores nacionais de partes e peças (usinagem da asa, por exemplo), além de provedores de sistemas informatizados, que faturam de R$ 10 milhões a R$ 15 milhões e que vão testar um modelo de integração do ecossistema da Embraer.
Uma das empresas, a Service One, resultado da união da Onset, empresa de São José dos Campos, com a BBKO Consulting, de São Paulo, vai atuar na implementação do software Business One, da alemã SAP, que funcionará como elo de ligação entre plataforma de comunicação da Embraer, o MySAP, e os sistemas de gestão dos seus fornecedores. Esse primeiro projeto contará com financiamento da Finep da ordem de R$ 400 mil.
"Em pouco tempo, teremos algumas empresas funcionando de forma eletrônica, experimentalmente. A entrada de todas as empresas em operação no arranjo produtivo, de forma totalmente integrada, deve acontecer ao longo de 2007", informa Marcos Peano, presidente da BBKO.
A prefeitura, segundo Kojima, fez seu papel: gastou cerca de R$ 80 mil em consultoria, definiu o modelo de negócios junto com entidades de ensino, empresas fornecedoras e a empresa âncora (no caso, a Embraer), modelou o perfil do parque tecnológico e o plano urbanístico, e cedeu o espaço aos seus parceiros para a montagem do CDTA.
Cerca de R$ 140 milhões estão sendo investidos por três instituições de fomento (Fapesp, Finep e BNDES), tendo igual contrapartida da Embraer.
Até meados de 2008, o CDTA vai desenvolver três programas. O primeiro, iniciado em fevereiro, trata da especialização de engenheiros trainners, que vão trabalhar na Embraer. Conta com a participação de 150 alunos, mas deve contemplar 300 profissionais ligados às atividades da Embraer. O segundo consiste na instalação de laboratórios para desenvolvimento de software embarcado para aeronaves, uma parceria da Embraer com o Centro de Computação do ITA.
As atividades devem começar em abril. Até agosto, deverá ser concluída a implantação do terceiro programa: o laboratório de pesquisas de materiais leves de uso aeronáutico.
Espera-se, porém, que tanto o laboratório de software embarcado como o centro de pesquisas de materiais leves não se limitem a estudos no setor aeronáutico, mas incluam também pesquisas e prospecção de materiais de interesse da Petrobras e da indústria automobilística.
"Seria um passo importante para criação, em breve, de um centro de desenvolvimento energético, por exemplo", sugere Kojima. Com financiamento do BNDES, esse novo arranjo produtivo teria a Petrobras como empresa âncora e envolveria pequenas e médias empresas locais, fornecedoras de materiais energéticos.
"O modelo de gestão está definido: uma empresa âncora com terceirização para um monte de pequenas empresas da cadeia produtiva. Isso certamente vai gerar mais emprego", afirma o vice-prefeito.