Título: Serra já demarca diferenças com Alckmin
Autor: Lamucci, Sergio e Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2006, Política, p. A7

O cancelamento do leilão de 20% das ações da Nossa Caixa marca a diferença entre José Serra (PSDB) e o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin. A venda das ações constava do Orçamento elaborado na época em que Alckmin era o governador do Estado. Com a suspensão, anunciada na terça-feira pelo governador Cláudio Lembo (PFL), ficou claro o estilo centralizador do governador eleito, antes mesmo de sua posse. O episódio mostra que Serra gosta de estar à frente das decisões mais importantes, dizem integrantes do PSDB que o conhecem de longa data. "Talvez Serra seja o mais centralizador entre os políticos do PSDB", resume uma fonte tucana.

Lembo negou que sua decisão de cancelar a venda das ações da Nossa Caixa tenha sido influenciada por Serra. Os recursos obtidos com o leilão poderiam ser usados para compensar a receita de impostos inferior às previsões do governo, uma defasagem que é estimada em R$ 560 milhões.

A fonte tucana diz que Serra costuma delegar apenas a execução da tarefas. Decisões cruciais ficam em suas mãos. "O estilo de Serra governar é muito mais próximo do de Mário Covas do que de Geraldo Alckmin", completa o tucano ouvido pelo Valor. Covas também era conhecido por ter um estilo mais centralizador do que o atual candidato do PSDB à Presidência.

Além de refletir a influência do governador eleito, motivos técnicos também embasariam o cancelamento da venda. O primeiro é que ele não seria indispensável para equilibrar as contas do Estado. O segundo é que esta não seria uma boa hora para o leilão.

O economista Roberto Macedo, um dos colaboradores do tucano, observa que o momento para vender as ações da Nossa Caixa não é o mais adequado "porque muitas empresas estão desistindo de fazer colocações no mercado neste momento".

Para alguns tucanos, a venda será retomada quando Serra estiver no comando do Estado, e as condições de mercado estiverem mais favoráveis. Por enquanto, a equipe de Serra ainda não tem um diagnóstico sobre a situação financeira do Estado. O governador eleito disse ontem que, a partir deste momento, ele e seus auxiliares "vão se debruçar sobre o Orçamento".

O controle de Serra e de seu grupo político sobre o governo ganhou visibilidade a partir de sua vitória, no domingo, mas a influência do governador eleito já era percebida na Assembléia Legislativa em julho, bem antes da reta final das eleições. Enquanto as pesquisas indicavam a vitória folgada de Serra, seus correligionários articularam-se no Legistativo para adiar a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2007. A LDO costuma ser votada até julho, mas neste ano isso não ocorreu. É um modo de ter um controle maior sobre o Orçamento que caberá a ele administrar a partir do ano que vem.

Serra esteve ontem no Instituto Fernando Henrique Cardoso, onde ficou por uma hora. Os dois tucanos rasgaram elogios um ao outro. Serra dedicou a Fernando Henrique a vitória nas eleições realizadas no domingo, fazendo muitos elogios ao ex-presidente. Fernando Henrique devolveu os cumprimentos, afirmando que o resultado foi uma glória. "São Paulo tem agora um governador de luxo", afirmou ele. Serra contou ainda que discutiu idéias para o governo no instituto, assim como nomes que farão parte do secretariado. O governador eleito já começou a se dedicar a articulação política para definir sua equipe na segunda-feira, quando se reuniu com o vice-governador eleito, Alberto Goldman, o deputado federal eleito Walter Feldman e o deputado federal Xico Graziano. Na terça-feira, ele se encontrou com Lembo, para tratar da situação administrativa do Estado. Na próxima semana, começará a funcionar o gabinete de transição escolhido por Serra.