Título: Bovespa resiste aos fracos balanços do 2º trimestre
Autor: Zampieri , Aline Cury
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2012, Finanças, p. C2

A safra ruim de balanços do segundo trimestre fez estragos nas ações de várias empresas, mas o Ibovespa - principal termômetro da bolsa brasileira - enfrentou a tempestade de maus resultados e segue com desempenho positivo de 3,7% em agosto. A principal explicação para a relativa resistência da Bovespa está no atraso do mercado brasileiro em relação aos pares internacionais.

"A ausência de notícias ruins lá fora desde o fim de julho permitiu à Bovespa tirar o atraso", aponta a estrategista da Fator Corretora, Lika Takahashi, lembrando que a bolsa brasileira foi uma das mais penalizadas com a crise na Europa. O Ibovespa subiu puxado principalmente por papéis de maior peso no índice, como Petrobras e os bancos, observa Lika.

O diretor de investimentos da Schroders Brasil, Marcos De Callis, também afirma que a bolsa estava muito descontada e os investidores, em geral, apresentavam baixa exposição à renda variável. "Qualquer sinal mais positivo deixa os investidores propensos a zerar suas posições vendidas ou ampliar a fatia em bolsa."

Em maio, no auge da crise, o Ibovespa acumulava perdas de mais de 10% em dólar no ano, desempenho que só não era pior que o das bolsas de países no centro da crise, como Grécia e Espanha. Mesmo com a reação recente, o Ibovespa ainda cai 5% em dólar em 2012 e continua melhor apenas que Israel (-6,3%) e os países da crise.

Para o sócio da consultoria Proxycon e presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais em São Paulo (Apimec-SP), Reginaldo Alexandre, a bolsa passou incólume pela tempestade porque já havia precificado a maior parte da onda de prejuízos do segundo trimestre. "De forma geral, os efeitos dos resultados negativos já haviam sido transferidos para os preços das ações", afirmou.

A temporada de balanços, que terminou oficialmente ontem, foi afetada principalmente pela alta de 11% do dólar frente ao real. Porém, o sócio da gestora de recursos Mauá Sekular, Guilherme de Morais Vicente, observa que o câmbio não provocou apenas números ruins no trimestre. Ao mesmo tempo em que causou rombos em dívidas, melhorou os resultados de companhias com receita em moeda estrangeira. Caso da produtora de celulose e papel Fibria e da fabricante de resinas Braskem, que tiveram desempenhos operacionais positivos. De acordo com o especialista, esses números melhores entraram na conta dos analistas do lado benéfico da balança.

De Callis, da Schroders Brasil, acredita que o pior já ficou para trás. "Mas o terceiro trimestre ainda não deve ser animador. É no quarto trimestre que deveremos sentir mais o efeito do crescimento econômico interno. E 2013 certamente vai ser melhor."

Vicente também espera um cenário melhor para o segundo semestre. Além da estabilidade do câmbio, a economia pode ganhar fôlego com desonerações de folhas de pagamento previstas no plano Brasil Maior e com o Reintegra, que entrou em vigor em janeiro de 2012, com prazo de 12 meses. O mecanismo dá direito ao resgate automático, em espécie, de 3% do crédito tributário adquirido pela indústria de transformação que exporta. Para o especialista da Mauá Sekular, a força de trabalho é outro ponto positivo. Segundo o Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) do Ministério do Trabalho, a economia brasileira criou 120,4 mil vagas em junho.

Apesar das perspectivas de melhoria, Vicente alerta para os riscos domésticos. Ele afirma que tem feito consultas informais a empresas e, sobretudo no varejo, as respostas são de que a demanda ainda não está acelerando. Outro ponto de monitoramento, diz, é o nível de emprego. Segundo ele, programas de demissão voluntária nas empresas poderão ser um alerta. Lika, da Fator, chama atenção para a inflação. O aumento nos custos, principalmente nos alimentos, tende a pressionar as margens. "Isso vai exigir um maior controle."

Reginaldo Alexandre lembra que o câmbio, que pesou bastante sobre os resultados de abril a junho, não deve trazer surpresas neste trimestre. Ele também espera que o período de julho a setembro já reflita as políticas de estímulo anunciadas nos últimos meses pelo governo federal, como os efeitos benéficos da queda dos juros.

No entanto, o quadro externo é fator essencial para a Bovespa definir um rumo até o fim do ano. "Se o Federal Reserve [banco central dos EUA] anunciar estímulos, o dinheiro virá e a Bovespa deverá ganhar os 60 mil pontos", diz o analista do BB Investimentos, Hamilton Moreira Alves. No pregão de ontem, o Ibovespa encerrou em alta de 0,18%, aos 58.189 pontos. O volume foi forte devido ao vencimento de opções sobre o índice, alcançando R$ 21,07 bilhões.