Título: Aumenta a pressão pelo afastamento de Berzoini
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2006, Política, p. A8

O PT reúne a Executiva Nacional do partido amanhã sob pressão dos dirigentes para que o presidente nacional da sigla, o deputado federal Ricardo Berzoini (SP), se afaste imediatamente. Berzoini teve assessores envolvidos na tentativa de compra do dossiê contra tucanos, na reta final do primeiro turno da campanha, e desde então está virtualmente imobilizado do ponto de vista político.

Berzoini não tem participado das primeiras negociações para conseguir apoios a Lula no segundo turno. Esta tarefa tem ficado a cargo do coordenador da campanha, Marco Aurélio Garcia, e do coordenador político do governo, ministro Tarso Genro. Não compareceu ontem, por exemplo, à primeira reunião do PT paulista sobre a campanha presidencial sob coordenação da ex-prefeita paulistana Marta Suplicy.

A escolha de Marta Suplicy para comandar a campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve um componente simbólico: tentar isolar o presidente do episódio do dossiê. Marta perdeu as prévias internas para o governo do Estado para o senador Aloizio Mercadante, que escolheu como um de seus coordenadores de campanha Hamilton Lacerda, envolvido no caso.

"A Marta pode zerar essa história para nós, porque passou ao largo disso tudo", disse o secretário nacional-adjunto do PT, Francisco Campos, integrante da Executiva Nacional. Para Campos, "Berzoini tem apoio para permanecer, mas não dá para tapar o sol com a peneira: o partido está fragilizado".

A troca de comando poderá reanimar a base política do partido em São Paulo, que atribui ao dossiê a derrota no Estado: o tucano Geraldo Alckmin teve 54,2% e Lula, apenas 36,8%. "A denúncia do dossiê mexeu com o ânimo de todos. Há um clamor dentro do partido por uma solução rápida desse problema. A Marta aumenta a nossa coesão", disse o deputado federal eleito Paulo Teixeira.

Em sua primeira reunião, Marta Suplicy sinalizou uma estratégia dupla no Estado: relacionar Alckmin com o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que ainda é uma referência negativa no imaginário do eleitor, segundo apontam pesquisas, e procurar ganhar apoios na classe média. "O governo Lula fez muito mais do que o governo FHC em oito anos. E não só para os mais pobres, isso tem que ser enfatizado", disse a ex-prefeita.

Marta afirmou que Fernando Henrique promoveu "a compra da reeleição", além de tratar da questão das privatizações "de forma indecorosa". "E não foi possível abrir nenhuma CPI", afirmou a ex-prefeita. Entre 1997 e 1998, o PT colheu assinaturas para tentar instalar CPIs de compra de votos no processo de reeleição e de investigação sobre privatizações, sem exito. (Com agências noticiosas)