Título: Créditos fictícios foram absorvidos por fundos
Autor: Mandl , Carolina
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2012, Finanças, p. C14

Parte dos créditos fictícios que encontrados na auditoria realizada no Banco Cruzeiro do Sul haviam sido repassados pela antiga gestão do banco para as carteiras dos seus Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs), de acordo com comunicados das gestoras desses fundos à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Os fundos tinham como lastro créditos consignados originados pelo Cruzeiro do Sul, que era responsável pela cobrança desses empréstimos e também depositário dos contratos dos ativos adquiridos pelos fundos.

A instituição tinha sete FIDCs, sendo cinco geridos pela BCSul Verax Serviços Financeiros. No total, as carteiras totalizavam patrimônio de R$ 5,087 bilhões.

Nos portfólios geridos pela BCSul Verax - que incluem os FIDCs abertos CPP 180, CPP 360, além da carteira distribuída para regimes próprios de Estados e municípios CPP 540 RPPS e o FIDC Multicred Financeiro - foi constatada a existência de créditos fictícios, referentes aos ativos cedidos pelo banco aos fundos. O valor não foi informado. Esses fundos tinham em junho R$ 4,7 bilhões de patrimônio.

No FIDC Multicred, além dos créditos fictícios, o fundo ainda apresentava 36% do patrimônio de R$ 3,411 bilhões em Certificados de Depósito Bancário (CDBs) do Cruzeiro do Sul em junho, que podem entrar na repactuação do FGC com os credores.

No entanto, devido à grande participação de cotas subordinadas nos fundos (detidas pelo próprio Cruzeiro do Sul e que são as primeiras a assumirem as perdas em caso de inadimplência), a administradora do fundo, a Cruzeiro do Sul DTVM, informou que a expectativa é que as cotas seniores, efetivamente distribuídas aos investidores, sejam pagas. Isso incluiria a alta rentabilidade descrita no regulamento dos fundos.

No Prosper Flex FIDC Multicedentes, administrado pelo banco Prosper, também foi constatada a existência de créditos fictícios na carteira cedida pelo banco ao fundo, cujo valor não foi informado.

A Oliveira Trust, administradora do FIDC BCSul Verax Crédito Consignado II, também informou em comunicado à CVM que a carteira possui direitos creditórios "insubsistentes" cedidos pelo Cruzeiro do Sul, no valor de R$ 46,890 milhões, o que representava 15,85% do patrimônio total do portfólio, de R$ 295,792 milhões em junho. O FIDC entrou em liquidação antecipada em função do Regime de Administração Especial Temporária (Raet) imposto ao banco pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), em 4 de junho.

A administradora do fundo informou que em função disso foi feita uma provisão na carteira no valor dos créditos problemáticos. Será convocada ainda uma assembleia geral de cotistas para atualizar a simulação do fluxo de recebimentos dos FIDC, bem como a definição dos procedimentos a serem adotados em face da proposta de reestruturação do FGC.

A auditoria realizada no Cruzeiro do Sul constatou que os créditos fictícios encontrados no balanço do banco somaram R$ 1,388 bilhão. Os ajustes totais no balanço, entretanto, foram superiores e totalizaram R$ 3,11 bilhões. O banco tem hoje um patrimônio líquido negativo de R$ 2,236 bilhões.