Título: Cúpula tucana aceita a adesão de Anthony Garotinho
Autor: Ulhôa, Raquel e Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2006, Política, p. A6

O apoio do casal Garotinho à candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência da República provocou a primeira crise da campanha neste segundo turno. O líder do PFL na Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ), filho do prefeito César Maia, disparou críticas ao PSDB e disse que seu partido ficará afastado da campanha para presidente. Para ele, Alckmin perde votos e o discurso da ética. "Ele segurou a alça do caixão de Garotinho, que está morto politicamente". Em Brasília, os presidentes do PSDB, PFL e PPS passaram o dia em articulações, tentando restringir o conflito ao Rio de Janeiro.

"Não sei se é o Alckmin ou o presidente do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE). Mas um dos dois é Mister Magoo (personagem de desenho animado que vivia se metendo em confusão por causa de uma grave deficiência visual). Não está enxergando nada. E está entregando uma eleição ganha. A eleição vai se decidir em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Eles precisam entender que Garotinho tira votos no Rio", afirmou.

Na avaliação do PSDB, o apoio de do casal Garotinho contribuirá para o crescimento da campanha no Estado, principalmente nos municípios do interior e na Baixada Fluminense. O mapa de votação está em análise e os tucanos já identificaram apoio a Alckmin em redutos de Garotinho. Na conversa com Alckmin e coordenadores da campanha, o ex-governador fluminense afirmou que ajudará a votação do tucano subir para 40% (Alckmin teve 28,86% dos votos no Estado). "Por mais que eu ache que ele foi um péssimo governador, seu apoio é importante", admitiu o deputado federal Eduardo Paes (PSDB-RJ).

Maia criticou Tasso por lhe telefonar na madrugada de terça-feira para avisar sobre o apoio de Garotinho, que seria formalizado naquele mesmo dia, em São Paulo. "Quem liga a essa hora não quer discutir nada. Já estava tudo decidido", disse. Integrantes do comando da campanha afirmam que Rodrigo Maia e o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), haviam sido informados na véspera sobre a possibilidade da declaração do apoio do casal Garotinho e não colocaram vetos. Apenas alertaram para a rejeição de ambos no Estado.

O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), disse que a juíza Denise Frossard agiu num "rompante" e considerou um "equívoco político" a defesa do voto nulo. Mas criticou o PSDB por não comunicar previamente a articulação com Garotinho. "Se eles tivessem feito o aviso, teriam evitado o estrago". Numa posição pragmática, Freire disse que Alckmin não poderia recusar o apoio.

Tasso minimizou o problema. "Isso é uma briga local entre Garotinho e César Maia. O que interessa é somar forças para eleger Alckmin presidente", disse. Por sua determinação, o PSDB deve explicitar apoio a Frossard. O presidente do PFL não quis se envolver. Escalou o senador José Jorge, vice de Alckmin, para a "missão pacificadora".

Os apoios recebidos causaram constrangimento dentro do partido e mal-estar entre integrantes da campanha. Ontem, Alckmin reuniu-se a portas fechadas com o governador reeleito de Rondônia, Ivo Cassol (PPS). Um dia antes, posou para fotos ao lado do casal Garotinho. A repercussão na coligação PSDB-PFL foi imediata e o candidato tentou colocar panos quentes nas críticas de seus aliados. "Vou continuar apoiando a Denise", disse

Cassol é investigado na Operação Dominó, da Polícia Federal, que desviou R$ 70 milhões do cofre do Estado. Ele é investigado também pelo Superior Tribunal de Justiça por superfaturamento de obras, fraude em licitações e garimpo ilegal de diamantes.

Dentro do partido, caciques tucanos não esconderam o constrangimento. Aécio Neves e José Serra não quiseram falar sobre o assunto. "Não vou entrar nessa questão porque aliança tem de ser tratada pelo partido", disse Serra. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também evitou comentar o mal-estar gerado no Rio de Janeiro, com o apoio do casal pemedebista. "Não acompanhei isso. Não quero opinar. Tenho atuado como ex-presidente da República e opino sobre questões gerais, sobre meu partido, sobre o Brasil. Não estou na 'transa' política, não estou participando diretamente", esquivou-se.

O presidente de honra do PSDB relatou que em nenhum momento foi consultado sobre apoios e jogou a questão para o presidente da sigla, Tasso Jereissati. "Apoio e voto você não recusa. Coligação política é outra questão. Precisa perguntar ao presidente Lula se ele vai recusar o voto de Collor", disse Fernando Henrique. "Articulações políticas têm peso muito pequeno no segundo turno. Não acho que a busca de apoio aqui ou ali vá acrescentar ou diminuir votos", salientou ontem.