Título: Boeing não aceita trocar dívida por ação da Varig
Autor: Nanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2004, Empresas, p. B7

A Boeing tem trabalhado junto à Varig para colaborar na recuperação da companhia brasileira. Esse esforço já passou por renegociação da dívida, com alongamento de prazo de pagamento, segundo o vice-presidente sênior de relações internacionais da The Boeing Company, a empresa-mãe do grupo, Thomas Pickering, em vista ao Brasil. De acordo com ele, a fabricante de aviões americana, a segunda maior do mundo, também mantém conversas constantes com o governo brasileiro. Ele não mencionou se há discussões acerca de um plano de salvamento para a Varig com o governo. Depois de uma passagem por São Paulo, ontem, Pickering voaria a Brasília. E é difícil imaginar que o tema Varig não estaria na pauta. Bastante cauteloso ao tratar do tema, Pickering só foi taxativo ao ser questionado sobre a possibilidade de a Boeing trocar dívidas por ações da Varig. "Não temos nenhum interesse em sermos proprietários dos nossos clientes." O executivo não informou qual o valor total devido pela Varig à empresa hoje. Informação publicada pela Boeing em balanço do ano passado indicava débitos superiores a US$ 400 milhões. Pickering anunciou que em 2005 a companhia pretende abrir uma filial no país e apontar um executivo para presidir a operação brasileira. "Acreditamos em novas oportunidades de negócios." Pickering se disse satisfeito com o contrato firmado com a Gol neste ano, que prevê a compra de 15 aviões no valor de US$ 960 milhões, e opção de aquisição de outras 28 aeronaves. Foi um dos maiores negócios fechados pela empresa na América Latina em 2004, ao lado de uma venda para a mexicana Aeromexico. Embora a Varig não venha fechando contratos diretos com a Boeing por conta de sua crise, a companhia tem alugado novas aeronaves da fabricante usando empresas de leasing. "Isso é negócio para nós, porque vendemos para as empresas de leasing". Pickering também disse que a companhia tem interesse em vender para a TAM, hoje cliente da Airbus. Em termos globais, a Boeing pretende entregar neste ano 285 aviões, apenas dois a mais do que em 2003. Mas, para 2005, a empresa está mais otimista. Há dois meses elevou sua previsão de entrega de 300 para 320 aeronaves. Segundo Pickering, os mercados asiáticos, com destaque para a China, têm demonstrado grande força. Lá fora, a briga com a fabricante de aviões européia Airbus está mais quente do que nunca. A Airbus acaba de anunciar que pretende lançar no mercado um novo jato, o A 350, para competir diretamente com o projeto Boeing 7E7. "O avião deles não será tão eficiente em economias quanto o nosso", alfineta Pickering. A explicação é que o A 350 será baseado em um avião "antigo", o A 330. "Não adianta apenas modificar as asas e colocar novos motores." No último ano, a Boeing perdeu a liderança do setor para a concorrente européia. No mês passado, o governo americano ingressou na Organização Mundial de Comércio (OMC) questionando o que considera que foram subsídios dados à Airbus por governos europeus. A União Européia contra-atacou iniciando um processo em que questiona supostos subsídios à Boeing. Dentro de duas semanas, haverá um encontro entre negociadores americanos e europeus. "Preferimos chegar a um acordo, em vez de prosseguir com a disputa na OMC", disse Pickering. De acordo com ele, a Boeing considera que a ajuda governamental à Airbus é a principal razão para que a americana tenha saído de uma participação de mercado de dois terços para menos de metade. A Boeing calcula em US$ 15 bilhões os subsídios recebidos pela fabricante européia durante 30 anos. "Nós só queremos voltar a competir de igual para igual."