Título: BrT quer mais prazo para eliminar sobreposição
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2006, Empresas, p. B3

Com dois anos de operação, completados na semana passada, a área de telefonia celular da Brasil Telecom (BrT) enfrenta uma prova de fogo no próximo dia 28. É nessa data que vence o prazo dado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para eliminar a sobreposição de licenças entre a BrT e a TIM. O prazo foi estabelecido há 18 meses, quando a Telecom Italia voltou ao bloco de controle acionário da BrT.

Representantes dos fundos de pensão que controlam a Brasil Telecom têm reclamado da falta de empenho da operadora italiana em resolver a situação e alertam que o pior cenário possível é uma intervenção da Anatel. Por isso, o Valor apurou que uma das soluções aventadas pelos gestores da BrT é pedir a prorrogação do prazo fixado pelo órgão regulador. O presidente da TIM, Mario Cesar Pereira de Araújo, reforçou nesta semana que o problema da sobreposição de licenças será resolvido "sem a necessidade de intervenção", mas apostou no cumprimento do prazo estabelecido.

Os executivos da BrT deixam claro que, por enquanto, a administração das operações de telefonia móvel segue normalmente e novos planos têm sido elaborados. A companhia já alcançou três e detém uma fatia de mercado superior à maioria das empresas de outros países que chegaram ao setor como "quarta entrante" - ou seja, com três concorrentes em funcionamento pleno. O lajida (indicador de desempenho operacional) deve tornar-se positivo no primeiro trimestre de 2007, fazendo com que a operação móvel deixe de ser um ônus para a empresas e colabore positivamente nos seus balanços financeiros.

A diretoria de operações móveis e de novos negócios da BrT, comandada por Roberto Rittes, um jovem executivo de 32 anos com longa vivência nos Estados Unidos e MBA em Harvard, tem apresentado números surpreendentes, especialmente no mercado empresarial. Nesse segmento, considerado mais rentável pelas operadoras, a BrT tem 19% de participação nas regiões onde atua. Nos últimos 90 dias, segundo um levantamento, BrT e TIM superaram as concorrentes Vivo e Claro, levando 30% cada das compras de novos planos feitos pelas empresas.

Embora recente na telefonia celular, o caso da BrT revela um "leading case" para uma quarta entrante nesse mercado. Das dez unidades da federação em que ela opera, já conseguiu ultrapassar a TIM e alcançar a terceira colocação na participação de mercado em seis - Tocantins, Rondônia, Distrito Federal, Goiás, Acre e Mato Grosso, por ordem decrescente de participação de mercado.

Uma comparação com operadoras de telefonia móvel que entraram em outros mercados como "quarta entrante" revela um quadro favorável. Após dois anos de operação, a BrT detém uma fatia de 11,2% nas regiões em que está presente. Em período semelhante, apenas a Orange obteve participação maior (12,7%), na Dinamarca, entrando no mercado nas mesmas condições. A própria Orange, na Holanda e no Reino Unido, a SmartCom, no Chile, a O², na Alemanha, e QTelecom, na Grécia, ficaram atrás.

A meta da área de telefonia celular da BrT é chegar ao fim do ano com 3,3 milhões de assinantes. Cerca de 32% dos clientes são de planos pós-pagos, que têm um gasto mensal maior. Para os clientes do pré-pago, a idéia é retirar cada vez mais os subsídios para estimular a compra de aparelhos e transferi-los para os planos. "O foco deve ser no plano, não no aparelho", ressalta Rittes.

Uma das inovações da BrT é o programa pelo qual o cliente pré-pago recebe, na forma de bônus, os minutos de ligações recebidas no mês anterior. A empresa chama o sistema de "Pula-Pula".

Outro desafio da BrT, comum às demais operadoras de telefonia móvel, é a implementação da portabilidade numérica, que deverá valer no início de 2008 e permitirá a manutenção do mesmo número de telefone por parte do assinante, mesmo trocando de empresa. A BrT faz ressalvas a essas mudanças, determinadas pela Anatel. "Os prazos são apertados. Temos que fazer as alterações com muita calma para criar dificuldades operacionais", afirma Rittes.