Título: A pauta ganhou tom de adeus
Autor: Silveira, Igor
Fonte: Correio Braziliense, 05/11/2010, Política, p. 6

Na primeira reunião ministerial após as eleições, Lula ressaltou que não vai se intrometer nas escolhas de Dilma. Em 2003, economia foi o tema do encontro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou a reunião ministerial, realizada na manhã de ontem no Palácio do Planalto, com uma notícia desanimadora para alguns dos participantes. O petista afirmou que ninguém está garantido no cargo depois de 31 de dezembro e que não vai indicar ou vetar qualquer nome para integrar a equipe de ministros da presidente eleita, Dilma Rousseff. Lula fez questão de ressaltar pessoalmente aos chefes das pastas o que disse, na quarta-feira, em entrevista coletiva: não quer interferir nas escolhas de Dilma e pensa que o próximo governo tem de ser montado de acordo com as vontades da ex-ministra-chefe da Casa Civil.

Lula destacou ainda que pretende eliminar o máximo de dificuldades que puder na transição do governo. Por isso, exigiu empenho máximo dos ministros até o fim do mandato, proibiu o afastamento do cargo por qualquer período até o último dia de governo, além de pedir que cada ministério organize e disponibilize todas as informações necessárias para as equipes indicadas para trabalhar na transição. ¿Nós precisamos facilitar todo o processo de informação que o novo governo precisar do atual. Vai ser constituída a comissão de transição e, portanto, embora a gente tenha a Casa Civil como coordenadora desse processo, que está previsto em decreto, pode ser que a comissão de transição queira conversar com ministros, individualmente, da área econômica, do Planejamento, e é importante que a gente esteja disponível para atender e criar todas as facilidades possíveis para a transição ser a mais tranquila e transparente possível¿, disse Lula.

Fotos: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press - 3/1/03 Em janeiro de 2003, Lula pediu aos ministros recém-escolhidos que reduzissem gastos e se preocupassem com o orçamento do ano Para o presidente, outra prioridade até entregar a faixa presidencial a Dilma é a conclusão das votações do Orçamento e de questões ligadas ao pré-sal no Congresso. Assim, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, deve se reunir com líderes de bancadas e aliados na Câmara e no Senado, na próxima semana, para costurar acordos que ajudem a concretizar essas demandas.

Desejo Depois da reunião ministerial, Padilha também contou um desejo de Lula externado durante o encontro. Segundo ele, o presidente afirmou que, após deixar o cargo, vai batalhar para a realização de uma reforma política no Brasil. ¿O presidente disse que a principal tarefa que ele vai assumir depois do mandato é lutar como um leão pela reforma política do sistema eleitoral. Ele, que é filiado ao PT, quer atuar dentro do PT, além de conversar com outros partidos aliados do atual governo¿, explicou. ¿Ele quer que seja apresentada, já no próximo ano, uma proposta de reforma política¿, completou Padilha. A última reunião ministerial do governo Lula deve ser realizada em dezembro, quando será apresentado um balanço dos oito anos de mandato do petista.

MEMÓRIA

Estreia marcada por euforia A primeira reunião ministerial na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi realizada ainda sob o clima festivo da posse do petista. Em 3 de janeiro de 2003, somente dois dias depois de receber a faixa presidencial das mãos de Fernando Henrique Cardoso, Lula reuniu os ministros para definir os passos iniciais do governo. O principal assunto da pauta era a preocupação com o momento econômico do Brasil. Aos ministros, Lula pediu que reduzissem gastos nas pastas, além de falar sobre a importância de um orçamento bem equilibrado para o primeiro ano de mandato. No Palácio do Planalto, local escolhido para a reunião, o presidente contava, nessa área, com dois nomes que permanecem, até hoje, no governo Lula atuando na área econômica: Guido Mantega, que era ministro do Planejamento e atualmente ocupa o Ministério da Fazenda; e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O segundo assunto que dominou a pauta daquela reunião ministerial foi o Fome Zero, que, até então, era o programa mais importante do governo. A iniciativa foi concebida com o objetivo de combater a fome no Brasil por meio de 30 ações complementares, sem a preocupação de fornecer somente alimentos à população carente, mas tentando resolver o problema de uma forma estrutural. (IS)

BRASIL QUER CARGO AS NAÇÕES UNIDAS » Segundo o site do jornal O Estado de S. Paulo, o Brasil formalizou que vai disputar a direção-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Mas o nome do concorrente ao posto não será antecipado. O cuidado foi tomado porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não teria decidido se vai disputar o cargo. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, é outro candidato em potencial. A definição só deve sair depois que Amorim for substituído. O ministro chegou a pedir para permanecer chefiando o ministério, mas Lula não aprovou a ideia.