Título: País tem recorde em fusões e aquisições
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2006, Finanças, p. C1

O mercado de fusões e aquisições no Brasil deverá neste ano ultrapassar o recorde histórico de US$ 52 bilhões em operações registradas em 98, ano da privatização da Telebrás . Nos primeiros três trimestres deste ano, o total de operações envolvendo empresas brasileiras já passou US$ 49 bilhões, um aumento de 226% na comparação com os US$ 15 bilhões de todo o ano passado, segundo a Thomson Financial.

Os números da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento) mostram a mesma tendência. O total de fusões, aquisições, reestruturações societárias e ofertas públicas de aquisição chegou a R$ 56,1 bilhões no primeiro semestre, valor que já ultrapassa os R$ 39,134 bilhões de todo o ano passado.

Mas, diferentemente do que aconteceu nos anos 90, não são as empresas estrangeiras que têm impulsionado a grande onda. Agora, são as empresas nacionais as grandes compradoras de empresas no mercado interno ou externo. Dos R$ 17,87 bilhões em operações de fusões e aquisições puras (exclui as reestruturações societárias e ofertas públicas de recompra), 57% foram de empresas brasileiras comprando outras no Brasil ou no exterior, segundo Luiz França, responsável pela comissão de fusões e aquisições da Anbid. E seus números não incluem a compra da canadense Inco pela Vale, que foi anunciada no terceiro trimestre e, sozinha, pode representar US$ 18 bilhões.

"O ano está bastante quente, com transações grandes, e tudo indica que teremos um recorde de operações", diz Matheus Morgan Villares, chefe da área de fusões e aquisições do Citigroup no Brasil. "As empresas brasileiras estão de olho em oportunidades e as transações estão cada vez mais complexas e sofisticadas", concorda Eduardo Centola, responsável pelo banco de investimento do Goldman Sachs para toda a América Latina. "O grande destaque são as múltis brasileiras", completa José Olympio Pereira, responsável pelo banco de investimento do Credit Suisse.

As perspectivas de crescimento da economia e a maior estabilidade de regras no país também têm contribuído para o aumento no volume de fusões e aquisições, diz Ricardo Lacerda, responsável pelo banco de investimento do Citigroup no Brasil. Apesar do ano eleitoral, um número cada vez maior de empresas brasileiras está conseguindo dinheiro de forma fácil e barata no mercado de ações, de renda fixa ou de empréstimos bancários externos ou internos. Podem, com isso, fazer aquisições alavancadas no Brasil e no exterior.

Por exemplo, o Marfrig, terceiro maior exportador de carne bovina, prepara a sua inauguração no mercado internacional de títulos da dívida, segundo o "IFR Markets". Pode levantar até US$ 100 milhões em operação de vencimento em três ou cinco anos. Anteontem, a empresa anunciou que negocia a aquisição do frigorífico uruguaio Tacuarembó, das plantas do Frigoclass, em Promissão (SP), e da Argentine Breeders & Packers (ABP), na Argentina.

No setor de açúcar e álcool, por exemplo, as brasileiras têm captado no exterior e no mercado de ações e se destacado como grandes compradoras de outras brasileiras, lembra Jean-Marc Etlin, coordenador do banco de investimento do Itaú BBA. Mas, os estrangeiros também têm comprado mais empresas brasileiras nesse e em outros setores. Os números da Anbid do primeiro semestre mostram um crescimento de 95% na compra de brasileiras por estrangeiros e de 278% na compra de participações estrangeiras em empresas brasileiras por outros estrangeiros.