Título: Romney luta contra déficit de simpatia
Autor: Fifield , Anna
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2012, Especial, p. A16

Se todas as eleições se resumem a com quem os eleitores preferem tomar uma cerveja, o presidente Barack Obama tem uma vantagem definitiva, e não apenas porque Mitt Romney, seu adversário republicano e mórmon devoto, é abstêmio.

Pesquisas recentes têm mostrado repetidamente que a maioria dos eleitores simpatizam com Obama como pessoa, ao passo que mais pessoas têm uma visão desfavorável do que favorável sobre Romney. Numa disputa eleitoral presidencial apertada como esta está se desenhando, a popularidade pessoal poderá fazer alguma diferença.

"A personalidade pode transformar uma Presidência medíocre em status de gigante perpetuado no monte Rushmore", afirma Douglas Brinkley, historiador da Presidência na Universidade Rice, no Texas.

"John F. Kennedy é o exemplo perfeito, ele teve uma Presidência curta e foi Lyndon Johnson quem conseguiu a aprovação de leis, mas a personalidade de JFK era tão midiática que ele é a pessoa sobre a qual todo mundo quer falar", diz Brinkley.

O mesmo poderia ser dito de Ronald Reagan, ainda hoje reverenciado no Partido Republicano e creditado pelo fim da Guerra Fria, apesar de o Muro de Berlim ter caído e o colapso da União Soviética ter acontecido quando George H. W. Bush era presidente.

Uma nova pesquisa "Washington Post"-ABC News concluiu que o percentual de pessoas simpáticas a Romney se estabilizou em 40%, ao passo que um número crescente de eleitores diz ter uma opinião desfavorável sobre ele - 49%, ou seja, mais do que os 45% de maio.

Os números sobre Obama foram melhores, tendo 53% dos eleitores respondido ter opiniões simpáticas, enquanto apenas 43% disseram ter uma visão desfavorável dele. Esses resultados foram divulgados após uma pesquisa do Pew Research Center na qual mais eleitores afirmaram ter uma visão mais desfavorável do que favorável de Romney, por uma margem de 52% a 37%.

A imagem de Obama manteve-se mais positiva, mas as avaliações pessoais sobre ele ainda são inferiores às da maioria dos candidatos nas últimas eleições. A história sugere que opiniões pessoais favoráveis ou desfavoráveis são relevantes. Desde 1988, apenas três candidatos presidenciais não foram pontuados favoravelmente por uma maioria de eleitores: Michael Dukakis em 1988, Bush Pai em 1992 e Bob Dole em 1996. Nenhum deles venceu.

"Os eleitores querem sentir-se confortáveis com a pessoa em quem votam. Tem de haver um fator de simpatia", afirma Nathan Gonzalez, da Rothenberg Political Report, uma entidade apartidária. "O presidente é uma figura polarizadora, mas Romney não é tão benquisto, e eu acho que isso dá esperança aos democratas nesta eleição."

Apesar de os dois candidatos defenderem suas (respectivas) plataformas e concentrarem-se em criação de empregos - principal preocupação do eleitorado - ambos estão calibrando suas imagens públicas.

A campanha de Romney começou, na semana passada, a organizar uma assessoria de imprensa dedicada a documentar suas saídas, como parte de um esforço para retratá-lo como um sujeito normal e dissipar sua imagem de multimilionário sem noção da realidade. Sua primeira aparição: em um supermercado, onde comprou uma bebida descafeinada, iogurte grego e duas espigas de milho.

Não é a fortuna de Romney, estimada em US$ 250 milhões, que antipatiza os eleitores, diz Bill Schneider, um analista do instituto de estudos Third Way, de tendência esquerdista. "As pessoas não se ressentem de alguém por sua riqueza. Na verdade, as pessoas admiram os ricos e esperam ser, um dia, um deles", afirma ele. "O que antipatiza as pessoas é o fato de alguém não ter noção das preocupações dos americanos comuns."

Se assim for, o plano de Romney para preservar os cortes de impostos sobre os ricos - e a percepção de que ele quer proteger outros ricos, poderá ser prejudicial, disse Schneider.

A equipe de campanha de Romney deverá intensificar os esforços para humanizar seu candidato após a convenção republicana, onde ele será oficialmente indicado para concorrer à Presidência, no fim deste mês.

Isso provavelmente envolverá usar mais intensamente uma de suas melhores armas, sua simpática esposa e seus cinco "telegênicos" filhos - bem como eventos mais "normais", como idas à compras em supermercados, segundo membros de sua campanha.

Mas Brent Littlefield, estrategista republicano que analisa esses números há duas décadas, afirma que as pontuações no quesito simpatia são, na verdade, irrelevantes. "É bom ser aprovado nos quesitos desempenho no trabalho e simpatia, mas você pode ser considerado simpático por 96% do eleitorado e ter uma taxa de aprovação de 4% e, mesmo assim, perder", diz ele.