Título: Café e cacau lideram ganhos no exterior
Autor: Mônica Scaramuzzo, Fernando Lopes, Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2004, Agronegócios, p. B10

Exceto por café e cacau, novembro voltou a ser um mês negativo para os preços das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior. Cálculos do Valor Data, que levam em conta as as cotações médias dos contratos futuros de segunda posição de entrega nas bolsas de Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão) e Chicago (soja, milho e trigo), mostram, também, que a tendência de queda da soja, verificada desde abril, foi interrompida, ainda que a variação positiva observada tenha sido insignificante. Principal item da pauta de exportações do país, o grão viu sua cotação média em Chicago chegar a 5,3467, 0,39% mais que a média de outubro. No entanto, no acumulado deste ano há variação negativa de 30,92%, e nos últimos doze meses até novembro, a queda chega a 30,30%. Para analistas, os preços haviam chegado ao fundo do poço e a relativa estabilidade observada não surpreendeu. Marcou o mercado no mês passado a confirmação, por parte do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), de safra recorde naquele país em 2004/05 (85,74 milhões de toneladas) e a identificação do fungo da ferrugem asiática em Louisiana, Mississippi, Flórida, Alabama, Arkansas e Georgia, além do Missouri, que confirmou ontem o surgimento da doença. Com o foco do mercado começando a ser transferido para o plantio na América do Sul, uma vez que a colheita nos EUA está no fim, surgem duas correntes em Chicago, segundo Seneri Paludo, da Agência Rural. Uma delas, aliviada, acredita que a resistência de US$ 5,80 por bushel será testada; outra crê que US$ 5,60 é o limite, e que há espaço para novos tombos. O milho, cuja oferta global também é gorda, como no caso da soja, fechou novembro com cotação média 2,44% menor que a de outubro, e com baixa de 15,7% no ano. Paulo Molinari, da Safras & Mercado, diz que o clima normal nos EUA na safra 2004/05, e a decorrente grande safra americana (298,23 milhões de toneladas) explica em boa parte a curva descendente das cotações. Agora, acredita Molinari, o mercado está de olho no ritmo de exportação dos Estados Unidos. Também por causa da grande oferta global, o trigo está em queda. Em novembro, houve recuo 2,33%; no ano, de 19,26%. Um analista observa que a safra americana é recorde e a Europa também tem grande produção após a seca na safra passada. Além disso, os estoques mundiais são elevados. Ele aponta, ainda, a transferência de ativos por parte de fundos como fator de queda das cotações dos grãos. "Os fundos estão entrando em ativos como petróleo", disse. Também é creditada aos americanos à queda do algodão, que também amarga baixa demanda no mercado internacional. Em novembro, as cotações médias recuaram 7,2% em relação ao mês anterior. "Na última semana de novembro, o ritmo de queda deu uma freada por conta dos volumes de exportações semanais americanas", afirmou Fernando Martins, da Fimat Futures. No curto prazo, diz, não há espaço para tombos. Já o açúcar, que apresenta fundamentos positivos em razão da quebra da safra da Índia, caiu 2,77% em Nova York em novembro, mas ainda acumula valorização de 35% nos onze primeiros meses deste ano. Segundo Fernando Martins, da Fimat Futures, "não houve muito interesse de destinos para açúcar" no mês. A alta do petróleo e a queda do dólar colaboram para a sustentação aos preços. E, ainda no terreno negativo, o suco de laranja devolveu em novembro, com sobras, os ganhos de outubro, estes sustentados pelos danos provocados pela passagem de furacões à citricultura da Flórida. A melhor notícia para os exportadores brasileiros veio do café, que encontrou suporte em um do mais importantes pilares do mercado: interesse das torrefadoras e dos fundos de investimentos, conforme Rodrigo Corrêa Costa, da Fimat Futures. No mês passado, a cotação média do produto subiu 10,8%; no ano, a elevação é de 35%. As cotações estão firmes há alguns meses por conta das previsões de menor safra do Brasil para 2005, com uma oferta de 20% a 25% menor para grão arábica. No curto prazo, a expectativa, contudo, é que as cotações caiam, pressionados pela liquidação dos fundos, que estão muito comprados. "A desvalorização do dólar em relação a outras moedas, sobretudo o euro, também deu um impulso a esse mercado", afirmou Costa. E as cotações do cacau, finalmente, reverteram a tendência de queda que vinha sendo observada devido aos conflitos na Costa do Marfim, país que responde por 40% da oferta mundial da amêndoa. No dia 9, quando os rebeldes ameaçaram impedir os embarques de cacau nos portos, a cotação do segundo contrato bateu US$ 1.806. No mês, a cotação na bolsa de Nova York subiu 11,82%, atingindo preço médio de US$ 1.630,75. Nos últimos 12 meses, a alta é de 12,05%. Para a safra 2004/05, que se encerra em setembro, a consultoria inglesa EDF & Man prevê produção 9% menor e déficit de 144 mil toneladas.