Título: Aparelho que decifra DNA em 24 horas desembarca no país
Autor: Bouças , Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2012, Empresas, p. B2

Em 1989, um grupo de aproximadamente 5 mil cientistas de todo o mundo, sob coordenação dos Institutos Nacionais da Saúde (NIH) dos Estados Unidos, dava início ao Projeto Genoma Humano. No ano 2000, esse consórcio anunciou, em cerimônia na Casa Branca, a conclusão do primeiro sequenciamento do genoma humano, ao mesmo tempo em que um grupo privado fazia o mesmo. O projeto público teve um custo de US$ 3 bilhões e demorou onze anos para ser concluído. O projeto rival, da companhia americana Celera, levou três anos e custou US$ 200 milhões.

Em 12 anos, a velocidade e o custo desse tipo de exame mudou drasticamente. Hoje, a empresa americana Life Technologies vai lançar no mercado brasileiro um equipamento capaz de realizar o sequenciamento do genoma humano em 24 horas, a um custo de US$ 1 mil. O equipamento foi anunciado em janeiro nos Estados Unidos e começa a ser vendido globalmente neste mês. "A expectativa é acelerar fortemente o mercado de pesquisa genética e de diagnósticos", afirmou Gianluca Pettiti, executivo-chefe da Life Technologies para América Latina.

Pettiti disse que a Life Technologies já recebeu pedidos para a entrega de 100 equipamentos, sendo dois do Brasil - um encomendado pelo Hospital A.C. Camargo, em São Paulo, e outro pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná, vinculado à Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). Segundo o executivo, a companhia vendeu 1 mil unidades do modelo anterior no ano passado e a expectativa é atingir um número semelhante com o lançamento do novo aparelho.

"Com a validação do equipamento e dos testes pelo governo local, a expectativa é que haja uma procura mais forte pela nova tecnologia", afirma Pettiti. A companhia pretende atender principalmente hospitais e centros de pesquisa que se dedicam aos estudos sobre tratamentos de câncer e Mal de Parkinson. Mas há também expectativa de procura por laboratórios de medicina diagnóstica. "A tendência é de uma democratização dos exames de DNA, à medida que os custos baixam", disse.

De acordo com o executivo, o novo equipamento é uma evolução de um sequenciador lançado no fim de 2010 e que chegou ao país em abril do ano passado. Ambos substituem a "leitura" do genoma a laser pelo sequenciamento no chip. Os equipamentos tradicionais usam placas com amostras de DNA e reagentes fluorescentes. Estimulados por laser, os reagentes destacam as bases da cadeia de DNA conforme a acidez de cada base, formando listas de pontos claros e escuros. Esse processo leva semanas para ser concluído.

O semicondutor Cell, fornecido pela IBM, substitui essas placas. O chip, de 1 centímetro de diâmetro, possui dois círculos em sua base, onde são inseridas as amostras de DNA com uma solução salina. O material é absorvido por 1,3 milhão de micro-orifícios, conforme a acidez de cada base do DNA. Essa tecnologia possibilita a realização dos testes em menos tempo e a custos mais baixos. Esse tipo de exame começou a ser desenvolvido pela americana Ion Torrent, que foi adquirida pela Life Technologies em 2010 por US$ 375 milhões.

A diferença do novo equipamento, diz Pettiti, é que ele faz o sequenciamento mil vezes mais rápido que o sequenciador lançado em 2010. O custo por exame baixou de US$ 8 mil para US$ 1 mil. O equipamento será vendido a US$ 150 mil. Outros sequenciadores de DNA são vendidos a preços entre US$ 500 mil e US$ 750 mil. Entre os principais concorrentes estão as também americanas Quest Diagnostics (que comprou a Celera em 2011, por US$ 657 milhões) e Illumina.

A empresa encerrou o primeiro semestre com aumento de 35% no lucro global, para US$ 254,9 milhões, e incremento de 2,8% na receita, para US$ 1,89 bilhão. A companhia não divulga dados sobre as vendas semestrais no Brasil. Pettiti estima para o ano um incremento nas vendas de 9% em relação ao ano passado, quando a Life Technologies registrou receita no país pouco acima de US$ 70 milhões.