Título: Indústria cresce em setembro, mas ritmo ainda é mo
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2006, Brasil, p. A3

A economia brasileira manteve em setembro o ritmo de crescimento moderado em diversos setores, dando continuidade à recuperação gradual iniciada em julho e mantida em agosto. Empresários ligados à distribuição de aços, papelão ondulado, petroquímica e eletroeletrônicos relatam um setembro positivo. Em alguns casos, ele é melhor do que agosto. Em outros, agosto foi forte e setembro manteve o ritmo. Além da sazonalidade do segundo semestre c- mais aquecido pelas festas de fim de ano - o quadro de juros em queda, renda em alta e crédito ainda farto ajudam a atividade.

A indústria automobilística - ao contrário destes setores - teve um desempenho ruim, influenciada pela greve na Volkswagen e na General Motors (GM). Como o setor tem um peso grande na produção industrial, esse resultado pode afetar negativamente o número do IBGE relativo a setembro.

O setor de aços planos teve um resultado favorável no mês passado. A distribuição do produto superou em 15% a 16% o registrado no mesmo mês do ano passado, segundo Carlos Loureiro, presidente da Rio Negro. Em relação a agosto deste ano, houve uma queda de cerca de 8% em função do número de dias úteis (três a menos).

Loureiro diz que o segmento tem sido beneficiado por alguma retomada no setor de máquinas agrícolas, pelo bom desempenho da construção civil, principalmente residencial, e pelas compras realizadas pela indústria automobilística e de autopeças. De janeiro a setembro, a distribuição cresceu 11% a 12% em relação ao mesmo período do ano passado. Loureiro diz que o setor pode fechar o ano com crescimento de 15% a 16%, especialmente porque o fim de 2005 foi muito fraco, explica ele.

O presidente da Indústria São Roberto, Roberto Nicolau Jeha, diz que agosto e setembro foram melhores para o setor de papelão ondulado. Na São Roberto, houve crescimento de 7% na produção em agosto em relação a julho. Em setembro, ficou no mesmo nível do mês anterior. Para ele, encomendas de embalagens do setor de brinquedos relacionadas ao Dia da Criança e dos segmentos de alimentos e bebidas para as festas de fim de ano ajudaram os negócios. Jeha lembra que a sazonalidade também favorece o resultado.

De janeiro a agosto, houve aumento de 1,7% na produção em relação ao mesmo período. No fechamento do ano, é possível que o número atinja 3%, estima. "É um resultado medíocre", diz Jeha, reclamando que o câmbio valorizado afeta indiretamente o setor.

A gerente da área de economia e estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diz que números preliminares do setor indicam que setembro foi superior ao desempenho de agosto. Ela ressalta, porém, que ainda não tem um retrato completo do segmento. Segundo Fátima, clientes da indústria química, como os setores automobilístico e de plásticos, anteciparam compras para formar estoques preventivos, para aproveitar o nível de preços.

Fátima diz que a sazonalidade também favorece a atividade nesta época do ano, pois o segundo semestre costuma concentrar 55% das vendas. No acumulado em 12 meses até agosto, as vendas cresceram 2,65%, número que tende a subir daqui para frente, acredita ela.

O setor de resinas termoplásticas ainda não fechou os dados de setembro, mas, segundo informações preliminares, manteve o ritmo de crescimento apresentado de janeiro a agosto, afirma o vice-presidente de relações institucionais da Braskem, Alexandrino de Alencar. Nos primeiros oito meses do ano, diz ele, as vendas do segmento no mercado interno subiram 12% em comparação com o mesmo período do ano passado.

A alta das vendas foi impulsionada pelo mercado de construção civil e pelas indústrias automobilística e de produtos químicos. "Também se observa um bom desempenho nas vendas para o setor de agronegócios", diz Alencar.

O impacto da queda do preço do petróleo no mercado internacional nas últimas semanas ainda não pode ser mensurado com precisão pelo segmento, diz Alencar. "O cenário do petróleo ainda está muito instável. Não se pode ter certezas, mas a tendência é que o preço se acomode abaixo do pico atingido no meio do ano", disse.

No Pólo Industrial de Manaus (PIM), fabricante de produtos eletroeletrônicos, as vendas em setembro cresceram entre 3% e 5%, de acordo com estimativas preliminares de Maurício Loureiro, presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam). Segundo ele, os resultados melhoraram em agosto e setembro, depois dos maus resultados de junho e julho, meses prejudicados pela greve da Receita e pelas vendas um pouco abaixo do esperado relacionadas à Copa do Mundo, avalia.

Segundo Maurício Loureiro, juros mais baixos nos financiamentos e o crédito com desconto em folha de pagamento são fatores positivos para o segmento. Além disso, o dólar barato contribui para a queda dos preços dos eletroeletrônicos, já que uma parcela significativa dos produtos tem componentes importados. Loureiro acredita que o faturamento do PIM deve fechar o ano em US$ 21 bilhões, alta de 11,1% em comparação com 2005. As exportações devem declinar significativamente para US$ 1,5 bilhão, bem abaixo dos US$ 2,2 bilhões de 2005.

Segundo ele, deve haver 2 mil contratações temporárias no PIM nos últimos meses do ano. O número parece expressivo, mas é inferior aos 5 mil do ano passado. No segmento de aços planos e de papelão ondulado, a expectativa é de não contratar nem demitir.

O presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello, diz que, de janeiro a agosto, o faturamento do setor caiu 4%. Ele não hesita em culpar o dólar barato pelos problemas do setor. Para Mello, a expectativa é de nova queda em setembro. Ele espera que o recuo no faturamento do ano se amplie nos próximos meses.

Uma das nota negativas do mês foi o mau resultado da produção de automóveis. Houve queda de 5,6% em relação a setembro de 2005, o que se explica em parte pelo fato de ter havido um dia útil a menos em setembro deste ano. Na comparação com agosto, houve queda de 9,9% nos cálculos da LCA Consultores, com ajuste sazonal, que já desconta os três dias úteis a menos em relação a agosto. Para o economista Bráulio Borges, da LCA, o mau desempenho se explica principalmente pela greve na Volkswagen e GM. Como o setor tem peso de 8% a 9% na produção industrial do IBGE, isso pode tirar parte do dinamismo do resultado de setembro. (Colaborou Patrick Cruz, de Salvador)