Título: Queda do spread já afeta ganho do Banco do Brasil
Autor: Mandl , Carolina
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2012, Finanças, p. C14

O Banco do Brasil tem cumprido sua missão de tentar estimular a economia via concessão de crédito, seguindo orientação direta do governo, controlador do banco. Apesar de o ritmo ficar aquém do imprimido pela Caixa - banco 100% público - o BB também acelerou o ritmo e fechou o semestre com uma ampliação de 20,3% nos financiamentos para empresas e pessoas físicas, comparando com o mesmo período do ano passado.

A carteira de crédito ampliada do banco, que inclui títulos privados e garantias prestadas, atingiu R$ 508 bilhões no fim de junho deste ano. Com isso, a participação de mercado subiu para 19,5% do total, elevação em relação ao patamar do fim de 2011, quando o BB respondia por 19,2% do estoque de crédito concedido no país.

A tendência, segundo o presidente da instituição, Aldemir Bendine, é acentuar essa estratégia nos próximos meses, respondendo a uma esperada retomada do crescimento econômico.

"Vamos crescer bem acima dos 20% previstos no guidance do banco para o ano", disse, em entrevista para jornalistas na manhã de ontem, em São Paulo. A estimativa de crescimento da carteira de crédito total para este ano foi mantida entre 17% e 21%. "Teremos um desempenho no segundo semestre muito superior ao do primeiro."

Apesar do protagonismo dos bancos públicos, o preço começa a ser pago. Com um juro menor e, também seguindo orientação do controlador, um spread mais apertado, o BB passou a ganhar menos com o crédito. As receitas da intermediação financeira avançaram 13,7% no período, enquanto as despesas atreladas a essas operações continuaram a crescer no mesmo ritmo, 21,5%.

O resultado final foi uma queda no resultado bruto da intermediação financeira de 5,2% nos primeiros seis meses do ano.

Isso explica parte da queda do lucro líquido nos primeiros seis meses de 2012, que recuou 12% sobre mesmo período do ano passado, para R$ 5,510 bilhões. A queda no reconhecimento dos ganhos atuariais da Previ- fundo de pensão dos funcionários - também impactou negativamente o resultado (R$ 1,14 bilhão).

Não por acaso, as projeções para o retorno sobre patrimônio ajustado e margem financeira bruta foram cortadas, dado o atual cenário de mercado, de acirramento da concorrência entre os bancos e a perspectiva de continuidade da queda da taxa de juros.

A estimativa para o retorno sobre patrimônio foi reduzida do intervalo de 19% e 22% para 17% e 20% (19,9% o realizado até agora) enquanto para a margem financeira bruta caiu de 11% a 15% para de 10% a 14% (realizado de 14,1%).

Bendine diz que o spread bruto do BB está na casa dos 7%, vindo de 10% anos atrás. A tendência do sistema brasileiro é caminhar para algo ao redor de 4%, diz ele.

Nesse cenário, acredita, o aumento do volume de operações deve compensar a queda dos spreads. Além disso, com o declínio da Selic, a estratégia é ampliar a receita com prestação de serviços (mercado de capitais e seguridade). "Vamos continuar com movimentos de queda dos juros", diz.

O Banco Votorantim - controlada pelo grupo Votorantim e pelo BB - teve prejuízo de R$ 536 milhões no segundo trimestre, ante lucro de R$ 156 milhões em igual período de 2011. A carteira de crédito atingiu R$ 58,8 bilhões, queda de 3,9% na comparação anual. "O saneamento da carteira foi feito", diz Bendine. "O Votorantim não nos preocupa e deve ter bons números até fim do ano."